A tarimba de Chico Salomão – Heron Cid
Crônicas

A tarimba de Chico Salomão

12 de fevereiro de 2024 às 11h30

Quem entrava na porta principal do mercado público de Marizópolis era tomado pela imagem de bancas, uma por cima das outras. Tinha de tudo. De redes de dormir a lamparinas. De artigo de couro a fumo de rolo.

Pelo labirinto de ofertas, produtos e feirantes com palavras de ordem, era possível encontrar também comida boa para aliviar a fome no bucho pelas horas do almoço.

Nas calçadas do lado de fora, cavalo, burros, jumentos e carroças enfileiradas e prontas para levar mercadoria para sítios distantes das redondezas.

Lá no fundo do mercado, estava a parada obrigatória de todo domingo de feira: a tarimba sortida e colorida das frutas de Chico Salomão, a imagem e cara do lugar.

Banana prata ou casca verde pendurada para escolher, verduras, laranja, uva verdinha, manga espada caída do pé, seriguela amarela e a maçã – rainha de todas – perfumando o ambiente e o nariz de quem se aproximava.

Com seu jeito alegre, Chico cativava todo mundo para perto. O sorriso largo no rosto e conversa aprumada na boca atraía clientela. Ora com agrado e descontos camaradas, ora vendendo fiado e anotando na caderneta.

Se hoje em dia atravesso de uma ponta a outra o mercado – agora abandonado e solitário – ainda posso ouvir a voz firme de Chico, ecoando pelos cantos do lugar e contando os anos no calendário.

A tarimba não está mais lá. Mas ele e as doces lembranças continuam vivas. Como frutas boas e saborosas amadurecidas no tempo da saudade.

*Crônica dedicada aos familiares e a um dos personagens da história de Marizópolis, falecido no dia 03/02/2024.

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