O recado do TCE: méritos de governo não blindam desvios de governantes – Heron Cid
Opinião

O recado do TCE: méritos de governo não blindam desvios de governantes

25 de janeiro de 2022 às 10h26

Ninguém pode dizer que falta coragem pessoal, para não dizer outra coisa, a Ricardo Coutinho. Nem mesmo a revelação da Operação Calvário de que, quando governante, intimidava conselheiros com dossiês, constrangeu o agora ex-governador a fazer – ele próprio – sua defesa no Tribunal de Contas do Estado no julgamento das contas de 2018.

Claro, Coutinho não perderia essa oportunidade única. Nela, como esperado, não se deu ao trabalho técnico, coisa que só advogado do ramo faria, e nem se esforçou para apresentar justificativas ou contraprovas das falhas e irregularidades identificadas por auditoria e relator.

Pré-candidato, apesar da inelegibilidade, aproveitou a chance e subiu ao palanque para fazer um discurso direcionado à sua militância, aos que ainda dão ouvidos à sua retórica e aos que os fecham para as milhares de horas de gravações comprometedoras de Daniel Gomes.

No previsto e em texto lido, o ex-governador gastou os trinta minutos de defesa em apologia aos seus feitos administrativos, para não perder o estilo e nem a pose, incluindo a de ‘vítima’, perseguida por tudo e por todos, um revolucionário e mártir dos trópicos tabajaras.

Nada suficiente para comover relator e conselheiros que se debruçaram sobre acervo de dados, inconsistências e crimes cometidos contra o erário e, especialmente, a Lei de Responsabilidade Fiscal, durante o ano de gestão analisado.

Ainda que tardio, o recado do Tribunal de Contas da Paraíba foi para Ricardo, o julgado, mas serviria perfeitamente para raio mais amplo de reflexão da política nacional cujo debate desceu ao nível de se minimizar escândalos, sacando sofismas de êxito de políticas públicas. Como se uma coisa validasse outra.

Acertos em programas de governos, como os muitos de Coutinho, reconheça-se, ou qualquer outro, não autorizam nenhum gestor público – servidor pago pelo povo – a malfeitos, e nem blindam governantes das consequências dos desvios. Uma reza não dá direito ao pecado.

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