A volta à sagrada terra natal e o testemunho de um desembargador – Heron Cid
Crônicas

A volta à sagrada terra natal e o testemunho de um desembargador

22 de agosto de 2021 às 06h52
Nilo Ramalho de sorriso aberto na vida simples das terras do Sítio Guaribas

(Marizópolis-PB) – Tem gente que passa a vida inteira no Interior trabalhando para migrar à capital. Tem gente que passa a jornada trabalhando na capital para voltar ao seu Interior.

Quem vive desde sempre o conforto e a modernidade da cidade grande quase nunca vai compreender a opção pelo caminho reverso, da troca do asfalto pelo chão batido de terra vermelha, do shopping pela beira de estrada.

Desembargador aposentado, Nilo Ramalho preferiu o perfume do mato exalado das entranhas do Sítio Guaribas, onde nasceu e se criou na zona rural de Conceição, distante 475 km de João Pessoa.

Depois de vencer na vida, como a gente diz aqui no Sertão que me abriga estes dias, Nilo deixou para trás a maresia e ficou com o som do chocalho das vacas, o mugido dos bezerros e o relincho do cavalo.

Desperta com o gorgeado da gordoniz, a sinfonia do bem-te-vi e o lamento da juriti, serpenteia entre mufumbo e marmeleiro e assiste do alpendre de casa a solene despedida do sol ao fim de tarde.

De passagem por aqui, encontrei Nilo. Fidalgo e generoso, fez questão de ir até meu encontro no Sítio Maxixe, de tantas tradições da família Braga, onde pernoitei durante a produção e transmissão do programa Hora H, direto de Conceição.

Honrado pela presença, arrastei-o comigo até os estúdios da Conceição FM. Singelo, sem vaidades e afetações, resistiu um pouco, mas quem tanto inquiriu na vida de juiz dessa vez foi intimado a me acompanhar e a falar sobre sua atual fase de vida.

No ar, perguntei o que todos lhe interrogam, incluindo colegas desembargadores: por que voltou para o pé de serra de onde corajosa e estoicamente partiu? No auge da maturidade e sabedoria, Nilo simplificou: “Luxo é diferente de bem-estar”.

Fiquei cá sozinho pensando comigo. Feliz quem sabe de onde vem porque nunca esquecerá para onde voltar. E aqui, da minha República de Marizópolis, onde escrevo estas linhas, divago sobre o significado telúrico do regresso do meu dileto amigo.

Olho aos céus, no alvorecer da aurora, e faço minha solitária oração. Quem sabe depois de terminar a carreira e combater o bom combate, também guarde a fé dos últimos dias banhando-me nas águas do Rio Piranhas, descansando na sombra do pé de seriguela da rua Ana Rocha número 18 e repousando da batalha final no solo que jaz meu umbigo.

Música: Terra, Vida e Esperança

Compositor: Jurandy da Feira

Interpretação: Luiz Gonzaga

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