Centrão: a 'entidade' que todos criticam, mas ninguém governa sem – Heron Cid
Opinião

Centrão: a ‘entidade’ que todos criticam, mas ninguém governa sem

23 de julho de 2021 às 16h58
Ricardo Barros, Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira e Arthur Lira

De tão notório, o Centrão já virou uma espécie de entidade. Foi uma convenção, rótulo bem próprio da imprensa, para batizar os partidos pragmáticos do Congresso.

A expressão ganhou força depois a repentina descoberta (falsa por sinal) de que a política brasileira se divide entre esquerda e direita.

Um sofisma. A ideologia da nossa política é separada por entre quem está no poder e quem está fora. Só. Posturas, ideias, crenças e comportamentos se amoldam conforme essa dança.

O Centrão nem está na esquerda e nem na direita, porque nem faz conta e nem acredita nelas. Está com quem tem o poder. Independe de verniz ideológico.

Publicamente, a explicação dos seus integrantes é teoricamente republicana. São a favor do Brasil, então não faz sentido ser ou fazer oposição. Na prática de Brasília, a coisa é outra. Para parlamentares emenderos, o Orçamento Geral da União é o Éden que salva reeleições.

Esquerda e direita, quando estão fora do poder, ensaiam odiá-lo. Excomungam e criticam adversários no Planalto que os abriga por necessidade e dependência.

Candidato, Bolsonaro fez isso, apesar de sempre ter sido um dos. Foi do PSC e do PP. Na campanha, cuspia o “Centrão”. No poder, começa a dar ao “Centrão” o espaço que Lula fartamente ofertou na Presidência dele e na terceirizada de Dilma.

O bolsonarismo agora engole o discurso, governa com os centristas e prospecta apoio deles. Para voltar ao Planalto, Lula já começou peregrinação e quer chegar “lá” com essas forças na garupa. Elas, como sempre, se valorizam. Vão roer o osso de Bolsonaro até onde der. Se valer a pena, ficam com. Do contrário, surfam noutra onda.

Essa é a entidade invisível que tanto se apedreja, o Centrão; odiado por quem está fora do banquete, indispensável para quem quer governar ou se reeleger. Bolsonaro e Lula sabem disso. Já a militância finge que não.

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