Morri de vergonha do debate (por Magno Martins) – Heron Cid
Opinião

Morri de vergonha do debate (por Magno Martins)

30 de setembro de 2020 às 10h30 Por Heron Cid

Debate eleitoral é uma oportunidade para o eleitor indeciso conhecer melhor os candidatos e decidir o voto, em alguns casos. O último debate das eleições presidenciais de 1989 talvez seja o mais discutido até hoje. Neste caso, o bafafá nem foi causado pelos candidatos, mas pela edição feita do confronto. Realizado pela Rede Globo a dez dias do segundo turno, quando Lula e Collor estavam quase empatados nas pesquisas, o debate foi editado em um vídeo de seis minutos para ser retransmitido no jornal do dia seguinte. A edição priorizava imagens de Lula nervoso, suando e titubeando nas respostas.

Já Collor parecia a segurança em pessoa e ganhou um minuto a mais que o rival na edição. Depois de o vídeo ir ao ar, Collor descolou do petista já na pesquisa seguinte e ganhou a primeira eleição direta pós-ditadura. Paulo Maluf merecia um prêmio por animar tantos debates. Na disputa presidencial de 1989, ele fez uma dupla com Leonel Brizola digna de programa de comédia. Sem papas na língua, Maluf disse que quem era desequilibrado não podia ser candidato a presidente.

Começou assim uma troca de insultos. Brizola chamou o rival de “filhote da ditadura” e os malufistas aplaudiram aos berros quando Maluf dizia que o candidato era um desequilibrado que “passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada”. Debates assim fazem história, mas o promovido pela Universidade Federal de Pernambuco entre os candidatos a prefeito do Recife, na última segunda-feira, não se pode enquadrar no gênero. Aliás, está mais para o gênero picadeiro.

Com o um departamento invejável de tecnologia, a UFPE cometeu o maior mico dessa incipiente campanha eleitoral. Nada funcionou. Formato inadequado, som péssimo, imagem horrível, tudo no evento foi bizarro. Os organizadores levaram a instituição ao ridículo, macularam a história de uma universidade que zela pela qualidade do ensino, pela contratação de mestres por excelência, enfim, a maior trapalhada que se tem notícia no mundo acadêmico.

Vale um pedido de perdão aos candidatos, mas, sobretudo, a quem perdeu o seu tempo. Arranjos, improvisos, sempre acabam reproduzindo a receita do amadorismo. Foi essa a sensação que ficou enraizada na plateia que tentou acompanhar de casa, através do link disponibilizado pela UFPE. Já ouvi que nas eleições os brutos sempre ganham. A UFPE contrariou essa regra.

Morri de vergonha!

Blog do Magno Martins

Comentários