Mea-culpa sobre críticas duras a Bolsonaro e seus soldados! Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Mea-culpa sobre críticas duras a Bolsonaro e seus soldados! Por Reinaldo Azevedo

7 de março de 2018 às 08h50
Jair Bolsonaro, presidente eleito do Brasil

Caros leitores,

Este e um texto em que faço um mea-culpa. Tenho sido duro com Jair Bolsonaro, pré-candidato do PSL à Presidência da República. Dou excessiva importância a seu desconhecimento de economia — coisa que ele, um homem sincero, admite. Para assuntos assim, afinal, ele terá Paulo Guedes se for eleito. Aí alguém poderia objetar: “Reinaldo, o Guedes, então, faria coisas que o presidente seria incapaz de entender?” Meus caros, não vamos superestimar detalhes.

Erro também quando dou relevo à proposta de Bolsonaro de espalhar fuzis entre os produtores rurais e distribuir portes de armas aos citadinos, em especial às mulheres, que, afinal, sofrem com a violência doméstica. Há certamente boa-fé na sua fala quando diz que um homem não vai folgar com uma mulher armada. Afinal, sempre pode levar um tiro, e, vamos convir, poucas coisas têm um efeito didático tão convincente como uma bala. Tanto é assim que Donald Trump está querendo armar os professores americanos. Se possuir arma fosse uma coisa ruim, japoneses e alemães, por exemplo, já teriam feito essa escolha. Como é uma coisa boa, compra-se um AR-15 sem grandes dificuldades nos EUA.

Também exagero ao fazer uma leitura apegada ao sentido das palavras na declaração dirigida à deputada Maria do Rosário:
“Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.

Ele falou o que vai acima no dia 9 de dezembro de 2014. A deputada, de fato, o havia chamado de “estuprador”. Só que “o outro dia” havia ocorrido em 2003, 11 anos antes. E, já naquela data, ele disparara:
“Eu não iria estuprar você porque você não merece”.

Os bolsonaristas, consta, encontraram um sentido novo para o verbo “merecer”. Ainda não sei qual é. Vou pesquisar. Mais tarde, o parlamentar concedeu uma entrevista ao jornal “Zero Hora” e deixou claro o seu critério de “merecimento” para o estupro. Aí eu entendi:
“Ela [Maria do Rosário] não merece [ser estuprada] porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”.

Como destacam seus partidários, ele está dizendo que não é estuprador. Agora, minha gente, se fosse, ele tem o direito de achar que apenas as mulheres bonitas mereceriam ser estupradas, certo?

O que há de mal nisso? E o homem é firme, saibam! Como não se desculpou até hoje, é sinal de que não mudou de ideia.

Em tempos em que políticos vendem tão barato — ou bem caro! — suas convicções, Bolsonaro segue firme. Se fosse estuprador, só estupraria as bonitas. Afinal, não é bobo nem nada. E só as bonitas merecem.

Sabemos que ele tem um exército aguerrido na Internet. Impressiona. Ao menor sinal de que o “mito” recebeu uma crítica, lá vêm vídeos cheios de garra, energia, determinação. É bem verdade que seus alvos só não são chamados de santos. Sabemos: os bolsonaristas formam o único exército que pode livrar o país do comunismo, já que as Forças Armadas já estão infiltradas.

O meu erro
E onde está o meu erro? Em criticar duramente as boçalidades do “Bolsomito” e sua família milionária. Vai que eles mudem de pregação. Vai que renunciem ao evangelho da truculência e da estupidez. Vai que passem a falar uma linguagem civilizada, humana. Nesse caso, poderíamos correr algum risco. Como estão as coisas, acho que não!

Vejam os números da pesquisa CNT/MDA.

No levantamento espontâneo, sem a apresentação de nomes, dizem que votariam em Bolsonaro 12,3 % dos entrevistados. Sim, é gente pra diabo. No estimulado, se Lula está na lista, são 16,8%. Qualquer especialista na área sabe que a variação é pequena. Lula vai de 18,6% para 33,4% — o salto é de 79,56%; no caso de Bolsonaro, de apenas 36,58%. Dos candidatos com mais visibilidade, é ele quem ganha menos eleitores. O salto percentual de Marina Silva, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes são ainda maiores do que o de Lula.

O que isso significa? Sem dúvida, ele tem um eleitorado consolidado, mas pouco elástico. Isso também se revela no seu percentual de votos quando Lula está e não esta na disputa. A variação é igualmente pequena. Com o petista, 16,8%; sem ele: 20%. A variação é de 19% apenas. Com muito menos votos, a de Alckmin é de 34,3% (de 6,4% para 8,6%). A de Ciro é de 88,3% (de 4,3% para 8,1%). A de Marina é de 64,1% (de 7,8% para 12,8%).

O mesmo se revela no segundo turno quando Lula não disputa. Bolsonaro conseguiria 58% a mais de votos na segunda rodada no que na primeira. Mas Marina cresceria 89%, e Alckmin, 158%.

O que isso quer dizer?
O eleitorado de Bolsonaro é, sim, convicto. Seu discurso furioso, suas barbaridades, suas soluções simples e erradas para problemas difíceis, a apologia da truculência, a brutalidade retórica ao enfrentar adversários, seu exército de maledicência na Internet, a indústria de difamação montada nas redes sociais… Bem, tudo isso serve para manter a turma unida.

Mas, ora vejam!, também assusta. Tudo indica que o “dito” mito bateu no teto. Dificilmente vai sair desse patamar. Terá um tempo minúsculo no horário eleitoral, fator que cresce de importância em tempos de vacas magras. O que as redes sociais e a Lava-Jato poderiam fazer por ele, creio, já fizeram. A história de que ele é um grande debatedor, que esmaga adversários, é fantasia, “fake news” espalhada por seus fanáticos.

Que seus valentes sigam, pois, nas redes sociais a espalhar ódio e truculência verbal e a atirar em tudo o que não se mova em direção a seu líder.

Isso faz de Bolsonaro um candidato, sem dúvida, consolidado. Mas também o torna refém de uma gente que não aceita nada que não seja um argumento com um fuzil na mão. Se ele ameniza o discurso, corre o risco de perder fiéis.

Senhor Bolsonaro e senhores bolsonaristas, minhas escusas! Vocês não devem mudar uma vírgula de sua pregação.

RedeTV

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