A carta de Palocci e um minuto de silêncio no PT – Heron Cid
Opinião

A carta de Palocci e um minuto de silêncio no PT

27 de setembro de 2017 às 08h17 Por Heron Cid

“Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos à Dona Marisa? Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”.

A pergunta deveria suscitar ao menos um minuto de silêncio ao PT e a militância do ex-presidente Lula. Ela foi feita, em carta dirigida ao partido, pelo ex-ministro da Fazenda e até pouco tempo integrante da cúpula da legenda, Antônio Palocci.

Palocci, convertido no PT agora a alvo de processo de suspensão da filiação, é um réu confesso. Passou meses se segurando e insistindo na tese de que ele, o PT e Lula não cometeram crimes. Ante os fatos e a condenação, jogou a toalha e resolveu admitir o que já está mais do que claro por depoimentos e provas: a existência de uma organização criminosa montada para tirar dinheiro da Petrobrás e financiar um projeto político, numa ponta, e arrancar benefícios pessoais, noutra.

O ex-ministro reiterou ter testemunhado um momento crucial. O dia em que Lula deixou ele, Dilma e Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobrás, perplexos ao encomendar sondas e propinas, sem a menor cerimônia, em pleno Palácio da Alvorada, “na cena mais chocante que testemunhei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o País já construiu em toda nossa história”.

A pergunta deveria calar fundo no coração de fundadores do Partido, assim como Palocci. A indagação deveria provocar um instante de lucidez a uma bem intencionada militância. A interrogação deveria instigar uma reflexão entre fervorosos seguidores apaixonados de um ex-presidente que simbolizou esperança e novos rumos para o Brasil.

Ungida por Lula, a nova presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, implicada com o marido Paulo Bernardo na Lava Jato, deve ter respirado fundo antes de assinar a resposta, em nome do partido:

“A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores. Política e moralmente, Palocci já está fora do PT”.

Foi a lamentável confirmação do que já se temia: no seu purgatório, o PT se transformou numa seita para jamais acreditar em qualquer pecado do seu Deus. Ainda que anjos e demônios revelem o contrário.

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