Rejuvenescer a juventude. Por Cristovam Buarque – Heron Cid
Bastidores

Rejuvenescer a juventude. Por Cristovam Buarque

27 de maio de 2017 às 09h39
"Brasil corre o risco de estancamento se seus jovens ficarem alheios ao progresso social ou contrários ao progresso técnico"

Há momentos em que as ideias precisam de pleonasmos que as expliquem melhor, tal como precisamos rejuvenescer a juventude.

Nossa geração atual de políticos fracassou. Apesar de tirar o Brasil da ditadura, estancar a inflação, fazer a economia crescer, avançar na liberação de costumes, criar programas assistenciais, aumentar o número de universitários, apesar de tudo isto, nós caímos na corrupção, não criamos coesão nacional, nem definimos rumo para a evolução nas próximas décadas. Com isso, provocamos um sentimento de desconfiança em relação aos políticos, à política e aos partidos.

Nestas condições, a crise econômica caminha para uma forma de desagregação social visível na violência generalizada, no descrédito político, na permanência da pobreza e da concentração de renda, na descrença dos jovens, na baixa produtividade e na falta de invenção na economia.

A próxima eleição de presidente, no prazo previsto ou antecipado por força da crise política, caminha para ser uma disputa entre políticos com ideias velhas e jovens militantes sem ideias próprias.

A política brasileira precisa substituir seus agentes atuais por jovens políticos. A maior dificuldade para esta renovação está na divisão da juventude: os que se recusam à ação política e preferem realizar seus projetos pessoais e aqueles que militam politicamente com ideias velhas. Os primeiros olham para frente sem ver o lado, os outros olham para trás sem perceber as mudanças em frente. Assistimos a parte dos jovens frustrados, sem motivação política; e jovens mobilizados, mas sem propostas transformadoras.

As recentes ocupações de escolas se mostraram contrárias a pequenos gestos modernizadores na educação. Não tinham o objetivo de defender avanços: fim do analfabetismo, garantia que os filhos dos pobres devem ter o direito de estudar na mesma escola dos filhos dos ricos.

Ao não propor novas ideias, a juventude militante passa a impressão de que está contra a modernização sem perceber a necessidade de mudanças e não parece sintonizada com o “espírito do tempo” das grandes transformações em marcha.

Apenas seguem palavras de ordem da geração anterior, que não foi capaz de apresentar ideias compatíveis com o futuro. Por outro lado, a juventude sintonizada com os avanços técnicos parece preferir cuidar de seus projetos pessoais.

Apesar de jovens, são militantes conservadores por omissão política e pela defesa de conceitos superados, alguns não entendem as necessidades de transformações sociais, outros reagem na contramão da rápida marcha rumo ao avanço técnico.

O Brasil corre o risco de estancamento se seus jovens ficarem alheios ao progresso social ou contrários ao progresso técnico; submissos às velhas lideranças e a velhos conceitos. O futuro precisa subverter as novas gerações, renovando-as para que se façam contemporâneas.

Um dos maiores desafios dos políticos do país é atrair os jovens para a militância e subverter suas ideias para formularem novos pensamentos, novas formas de organização e de militância, livres dos velhos conservadores saudosistas de um progressismo que ficou reacionário.

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