A história do mototaxista que virou secretário de Estado – Heron Cid
Crônicas

A história do mototaxista que virou secretário de Estado

20 de novembro de 2023 às 16h32

Exausto da jornada tripla, havia dias que dormia em frente ao computador na tentativa de revisar os conteúdos das aulas. Numa dessas, no meio de um cochilo e sonhando com dias melhores, abriu os olhos e se deparou com uma frase na tela: “O esforço nunca é em vão”. Guardou a mensagem como um lema de vida.

Rápido, seguro, econômico e eficiente. Eram essas as qualidades prometidas pelo jovem mototaxista Jean Francisco para ganhar os clientes de Arcoverde, sertão de Pernambuco.

O cartão do Moto Service passou de mão em mão até ganhar clientela fiel. O rapaz cumpria o prometido e ninguém jamais reclamou das viagens ao preço camarada de R$ 1 real naqueles fins dos anos 90.

Estudante de Direito em Caruaru, o jovem saía de todo fim da tarde para a faculdade, uma hora e meia distante, é só botava os pés em casa na madrugada.

Antes do sol raiar, já estava de pé para o seu serviço fixo. Rapidinho entregava de moto os exemplares do Jornal do Commércio, vindo do Recife, a todos os assinantes da cidade.

A leitura só atrasava nos domingos, quando o entregador acumulava a demanda de transportar – ida e volta – os marchantes da feira. Com dinheiro no bolso, buscavam amor fácil e comprado na solidão das noites e dos cabarés da rua.

Anos mais tarde, já formado advogado, delegado concursado e morador da vizinha Paraíba, voltou a abrir os olhos diante de um plenário lotado de gente e aplausos na Assembleia Legislativa do Estado.

Não estava delirando do cansaço da intensa e perigosa jornada contra a violência. Ele mesmo podia se reconhecer no reflexo do telão em frente à tribuna em que discursava.

Lá estava o mesmo Jean Francisco Nunes. No retrovisor da memória, o secretário de Segurança Pública, e mais novo cidadão paraibano, viu o mototaxista sonhador acenando. Lembrou da frase  que nunca esqueceu e o acompanhou na garupa dessa viagem da vida. O esforço nunca é em vão mesmo.

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