“Baixa do Mel", o saboroso romance de Rubens Nóbrega (Por Heron Cid) – Heron Cid
Crônicas

“Baixa do Mel”, o saboroso romance de Rubens Nóbrega (Por Heron Cid)

12 de fevereiro de 2023 às 11h35

Tomei de um gole só. A deliciosa “Baixa do Mel”, do inexcedível Rubens Nóbrega, é leitura prazerosa. Tão saborosa quanto o melaço saindo do tacho ainda com o gosto do verde da cana. Sou suspeitíssimo para falar. Fã assumido e discípulo sem o mesmo talento, bebo dessa fonte desde quando me entendi por gente.

Marizópolis era o final da rota do carro do jornal e o Correio da Paraíba chegava quase meio dia, mas estava lá à espera na Câmara Municipal, uma das duas únicas assinantes na pequena cidade. A Prefeitura era a outra. Só pra ler, principalmente, a coluna da página 4.

Leitores do colunista, com esse histórico de algumas décadas, não se surpreendem com a qualidade do escritor Rubens Nóbrega. A audiência regular do jornalista sempre foi brindada por textos acima da média mergulhados em caldo literário.

Nas colunas de domingo, nunca faltou um causo, um conto, tipos excêntricos, humor, ironia, boas e divertidas histórias. Rubens sempre foi para muito além do manequim apertado do jornalismo cotidiano.

Merval Pereira diz que o jornalista é escritor em regime de urgência. Rubens é no modo excelência. O conteúdo pujante de sua mais nova obra só é possível vindo de um astuto observador de sua gente, amante de sua terra, de um cidadão destemidamente forjado na denúncia social.

Na narração do mestre, senti o cheiro das personagens, tremi com a brutalidade das maldades humanas e me excitei na rudeza do gozo do improvável e antagônico casal. Quem lê, mergulha no afogamento de um menino, que desencadeia trama eletrizante, cheia de suspense e de final inundado de fantástico e transcendente.

Da rede na varanda não saí antes de consumir a última página. A história foi passando diante dos olhos, com tanta eficiência que aposentei as séries de maratonar por um fim de semana. A um só tempo, indignação e emoção.

A “Baixa do Mel” é o ponto alto de uma montanha que nosso veterano Nóbrega continua a escalar com brejeira disposição, porque, assim como editor rigoroso, é incansável no garimpo da perfeição, embora sem jamais julgar ter chegado ao ouro do último degrau.

Tanto que, com toda sua humildade, andou por aí se perguntando se o que lançou é ou não um romance, no parecer dos críticos literários. Como se seu estilo singular de sensibilizar, cativar leitores e contar histórias coubesse numa caixa fechada. Rubens Nóbrega continue livre! Como a abelha que faz mel sem seguir receita.

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