O êxodo sertanejo (Por Heron Cid) - A crônica de domingo – Heron Cid
Crônicas

O êxodo sertanejo (Por Heron Cid) – A crônica de domingo

1 de maio de 2022 às 13h27

Quando regressou a Marizópolis, distrito de Sousa, no sertão paraibano, lá pelos anos de 1984, o jovem jornalista Dionízio Gomes se deparou com dolorosa realidade.

Os amigos de infância e adolescência não estavam mais lá. Quase todos haviam afivelado as malas e ido embora em busca de sustento e de sobrevivência.

Ele estava vendo na prática – e da forma mais dura e saudosa – o êxodo do sertanejo para outras regiões do país.

Essa dor, essa saudade foi transformada, à época, em versos de uma poesia plangente da vida real.

Também vi isso em casa. Meu tio Naldinho deixou nossa família na rua Ana Rocha número 18 e ganhou o mundo por Rio de Janeiro e São Paulo.

De ano em ano, quando dava, ele descia na Viação Gontijo. Eram as férias de 30 sagrados dias para rever a gente e relaxar da vida dura e de trabalho pesado da cidade grande, em terras distantes.

Antes dele, meus tios-avós Zé e Chico Batalha fizeram o mesmo caminho. Um para a pauliceia e outro para os cerrados do Goiás.

Aqui e acolá também reapareciam. Mas, de tão longe, não tiveram tempo de dar adeus a mãe deles, dona Chiquinha, sepultada sem as lágrimas dos filhos por perto.

Tantas décadas depois, essa realidade do passado ainda persiste no presente desafiando o futuro de nossa juventude. Sertanejamente aguerrida.

Dionizio Gomes, autor de Êxodo, a diáspora dos sertanejos pelo mundo

Êxodo (Dionízio Gomes)

No sertão eu nasci e me criei

E depois me mandei

No sertão todo jovem age assim que nem eu

É o quadro normal da localidade

Quem disto foge é uma subversividade

E já é necessária a evidência da perspicácia sertaneja

Como fuga a uma revolucionalidade

No sertão jovem nenhum consegue seu meio de vida

Na luta pela resistência, como crivos e aderências

As fendas se abrem em forma de incicatrizáveis feridas

E as fendas nos jovens todos nós temos medos

Hoje os campos latifundiados, infrutíferos, desocupados

Possuídos por quem nunca abrirão mão de serem comandados

Explica a diáspora dos filhos dessa terra pelo mundo

Deixando claro o que para mim não é mais segredo

Hoje eu não encontro mais meus velhos amigos no sertão

Procuro por Romildo, por Bilô, por Lequim, por Chenfim, por um rol de amigos, e me respondem:

Foram para São Paulo ganhar o pão!

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