Periferia em cena com Rebeca Andrade no pódio (Por Célia Chaves) – Heron Cid
Bastidores

Periferia em cena com Rebeca Andrade no pódio (Por Célia Chaves)

4 de agosto de 2021 às 09h18

O som da favela no pódio mais elevado das Olimpíadas. O significado social da vitória e escolha de Rebeca Andrade de levar o ritmo da periferia brasileira para Tóquio foi o tema de abordagem pertinente da jornalista e e graduanda de Psicologia, Célia Chaves, em artigo publicado no Portal MaisPB.

Confira:

Popular, controverso, amado e também odiado, o funk é um gênero musical que expõe fragmentos multifacetados da sociedade brasileira. Alguns de seus maiores sucessos trazem interfaces de uma realidade marginalizada e por muitos ignorada. Quadro emoldurado nas periferias de norte a sul do país, que ganhou desenho artístico, sob mãos, corpo e alma da ginasta Rebeca Andrade.

Aos 22 anos, a campeã olímpica, ganhadora de ouro e prata, no Japão, levou o “Baile de Favela” ao palco reservado às melhores, onde jamais o erudito cedeu algum espaço ao popular. Fruto dessa junção, o espetáculo encantou o mundo, e não apenas o jurado. A apresentação retratou conceitos estéticos, melódicos e rítmicos, com a cara da mulher brasileira, especialmente aquela da periferia: negra, embalada por desejos de empoderamento, liberdade e necessidade de desvelar feridas sociais, além de todas as formas e formatos de preconceitos .

Meticulosamente pensada e idealizada por excelentes profissionais, a coreografia encheu os olhos da ginasta, um dia apelidada de espoleta. Depois, “Daianinha de Guarulhos”, referência à ídola Daiane dos Santos. Hoje, Rebeca de Andrade, que esbanjou talento e personalidade ao elevar também a cultura nacional, em cada salto, movimento e pirueta.

A poucos dias do término das madrugadas e manhãs olímpicas, aqui no nosso Brasil, uma pergunta não quer calar. Qual a razão da polêmica gerada em torno da magnífica coreografia, protagonizada pela ginasta, e seu “Baile de Favela”, música do MC João, que comemorou efusivamente essa conquista, transportando-a também à “vitória do funk”. Um gênero que incomoda a muitos, sobretudo aos segmentos mais conservadores.

Cravaram várias críticas, tão impactantes como um salto duplo. Para essas pessoas, a atleta pecou ao deixar-se embalar por um sucesso do funk nacional, considerado “machista”, “misógino”, “anti-cultural”, entre outras adjetivações. Desconsideram toda a importância e papel exercido por um gênero musical que ultrapassou as barreiras da periferia, para ser sucesso em todo o país. Também ignoram a verdadeira identidade da nossa ginasta, de origem humilde, negra, nascida na periferia de São Paulo.

A filha de dona Rosa, mãe solo, que ganhou a vida como empregada doméstica, também carrega o funk nas veias. Seus passos, acrobacias e sorrisos falam por si só. Portanto, menos preconceitos e mais aplausos, porque, não fosse a pandemia e público tivesse naquela apresentação, o ginásio de Tóquio não comportaria tamanha emoção, talento e alegria do “Baile de Favela” .

*Por Célia Chaves (jornalista, graduanda de Psicologia)

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