Dois turnos no primeiro turno (por Magno Martins) – Heron Cid
Bastidores

Dois turnos no primeiro turno (por Magno Martins)

24 de setembro de 2020 às 12h12

(Recife-PE) – Numa leitura mais aprofundada dos números da pesquisa do Instituto Opinião no Recife, postada ontem neste blog, não seria precipitado arriscar um palpite: a cidade tende a enfrentar duas eleições numa só eleição de primeiro turno: a de Marília Arraes (PT) contra João Campos (PSB) e a de Mendonça Filho (DEM) frente à Patrícia Domingos (Podemos). Traduzindo: não há espaço no Recife para uma disputa final entre candidatos que disputam um mesmo segmento eleitoral.

No caso Marília x João, a batalha se dará em cima do eleitor no chamado campo da esquerda, enquanto Mendonça x Patrícia perseguirão o eleitorado mais conservador, de centro-direita, segmento com mais aderência para o bolsonarismo. É sabido que Recife é uma cidade rebelde e libertária, mas Bolsonaro teve 44% dos votos dos recifenses no primeiro turno presidencial de 2018 e no segundo turno aumentou para quase 50%, precisamente 47,50% dos votos.

Eleição se faz com números, com parâmetros. Qual chance teria quase 50% do eleitor recifense que votou em Bolsonaro dar uma guinada para o PT ou PSB, votando em Marília e João na eleição para prefeito do Recife? Teoricamente, nenhuma. Esse eleitor tende a votar em candidatos que venham a se identificar com o seu pensamento e a sua linha ideológica. Mais uma vez, teoricamente, esse segmento eleitoral está muito mais para Mendonça do que para Patrícia.

Até porque Mendonça assume que quer o voto de bolsonaristas, enquanto Patrícia não é tão decidida assim. Esse eleitorado, alguém poderia corrigir, estaria mais inclinado para um candidato com perfil e defesa mais bolsonaristas, como Alberto Feitosa, candidato do PSC. Mas este leva a desvantagem de ser o mais desconhecido e para subir nas pesquisas teria que ter as benções de Bolsonaro na campanha. O presidente já reiterou que não se envolverá na campanha em nenhuma cidade.

Recife, portanto, terá duas eleições de segundo turno num primeiro turno. O adversário de Marília é João, o de João é Marília. O adversário de Patrícia é Mendonça, o de Mendonça é Patrícia. Se essa tese for contrariada lá na frente, na abertura das urnas, mais uma vez estaremos diante da confirmação de que a política está longe de ser uma ciência exata.

Blog do Magno Martins

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