Ministros que poderiam ser (Ascânio Seleme) – Heron Cid
Bastidores

Ministros que poderiam ser (Ascânio Seleme)

9 de junho de 2019 às 09h00

Para não dizer que apenas Bolsonaro é capaz de chamar ministros esquisitos para o governo, vale lembrar algumas figuras que fizeram História no Brasil e que poderiam muito bem compor a equipe atual. Já houve quase tudo no cenário da política nacional. Teve um ministro que preferia fazer poesias a governar, outro mais belicista do que qualquer membro do ministério atual. Nos primórdios da nova democracia brasileira, um ministro inventou um vernáculo para o idioma pátrio. Mais recentemente, surgiu outro que, embora fosse brasileiro, falava português tão mal quanto o colombiano que foi ministro da Educação. Para não amolar o leitor, vou fazer uma lista breve, apenas com os grandes destaques. Aqueles que teriam lugar de honra no governo e que seriam páreo duro para Damares Alves, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo.

O Imexível . O número um, o que não faltará em lista alguma, mesmo daqui a cem anos e 25 novos ministérios, é o saudoso Antônio Rogério Magri, ministro do Trabalho de Fernando Collor de Mello. Magri criou uma nova palavra no idioma nacional ao dizer que era “imexível” no Ministério, quando começaram a surgir as primeiras denúncias contra ele. Um dia, o ministro levou prostitutas para uma reunião da OIT na Suíça e deixou-se fotografar ao lado delas. Mais tarde, explicou assim o fato de ter recebido propina para facilitar liberação de recursos do FGTS: “O dinheiro caiu do céu”. Mas a melhor foi a explicação que deu ao ser flagrado levando seu cachorro ao veterinário num carro de serviço do ministério: “Meu cachorro é um ser humano como outro qualquer”. Magri causaria inveja em Damares.

O ministro bomba . Dentro desse governo que se diz “armamentista”, Roberto Amaral cairia como uma luva. Ele foi ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula. Numa de suas primeiras declarações, logo depois da posse em janeiro de 2003, o ministro disse à BBC que o Brasil deveria dominar a tecnologia da bomba atômica. Imaginem que maravilha, que alegria para Jair Bolsonaro, ter entre os seus um ministro desse calibre. Roberto Amaral vivia mais no mundo da lua do que o ministro astronauta Marcos Pontes. Ele seria um representante brasileiro no exterior à altura do chanceler Araújo, não deixaria uma ponte em pé.

O texano . Muito antes de Ricardo Vélez Rodríguez aportar na Esplanada dos Ministérios falando um português difícil, complicado, houve outro que soava como estrangeiro. Trata-se de Mangabeira Unger, guru de Ciro Gomes, que fala português com sotaque de americano do Texas. Mangabeira disse em 2005 que o governo Lula era o mais corrupto da História do Brasil. Dois anos depois, convidado por Lula, assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos dizendo que havia no país “uma nova vanguarda vinda debaixo”. Seria sócio fácil da turma atual.

O encrenqueiro . Teve um ministro no governo Dilma que comprou uma briga com parlamentares de tamanho que nem Paulo Guedes conseguiria enfrentar. Cid Gomes, então ministro da Educação, disse que a Câmara tinha entre 300 e 400 achacadores. Convocado para se explicar no plenário, foi chamado de mal educado pelo presidente da casa, Eduardo Cunha. Respondeu que preferia ser mal educado a achacador. O bate-boca foi generalizado. Os deputados do PT, que deveriam apoiá-lo, o abandonaram no confronto dentro do plenário. Ele saiu de lá para ser demitido por Dilma pelo telefone.

O rei da gafe . Ricardo Barros, ministro da Saúde de Temer, se notabilizou pelas suas inúmeras gafes. Certa vez, Barros disse que os homens vão menos ao médico porque trabalham mais do que as mulheres. Depois sugeriu que a maioria dos pacientes que procura a rede pública de saúde apenas “imagina” estar doente. Mais adiante afirmou que faltava dinheiro na Saúde por causa da “incapacidade” dos brasileiros de pagar impostos. Finalmente, chamou o mosquito aedes aegypti de indisciplinado. “Se o mosquito se comprometesse a picar só quem mora na casa, seria fácil”. É ou não é um concorrente de peso para Weintraub?

Os dançarinos . Dois ministros de Collor protagonizaram a primeira história de amor de membros do primeiro escalão do governo que se transformou em assunto nacional. Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia, e Bernardo Cabral, da Justiça, dançaram ao som de Besame Mucho, coladinhos, em demonstração pública de afeto, numa festa em Brasília ,enquanto o país ruía pelo caos econômico gerado pelo confisco capitaneado por Zélia. O romance começou numa reunião ministerial, quando Cabral mandou um bilhetinho para Zélia enaltecendo a beleza das pernas da colega. O caso foi constrangedor para ambos porque Cabral era casado. Não há paralelo no governo casto de Bolsonaro, o que pode ser considerado uma oportunidade.

O Globo

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