A economia está parada, a popularidade do presidente despencou e o desemprego continua a subir. Um governo com estes resultados ainda é capaz de mobilizar eleitores para defendê-lo? É, pelo que se viu nas manifestações de domingo.
O estímulo aos protestos a favor foi uma aposta arriscada. Jair Bolsonaro quis demonstrar força e emparedar o Congresso e o Supremo, que ele enxerga como obstáculos ao poder presidencial.
A primeira meta foi cumprida. Apesar das dissidências na direita, as marchas provaram que ainda há muita gente disposta a sair de casa para reverenciar o “Mito”. A segunda é mais questionável. Ao atacar o presidente da Câmara e os deputados do centrão, o bolsonarismo hostilizou personagens que decidirão o sucesso ou o fracasso das reformas.
Rodrigo Maia substituiu o ex-presidente Lula como alvo número um das passeatas. No Rio, ganhou até um boneco inflável para chamar de seu. O “pixuleco” usava camisa do Botafogo com logotipo da Odebrecht e escondia notas de dólar nos bolsos e sapatos. Nas costas, era rotulado como “Nhonho”, “Judas” e “171”.
Os ataques ao deputado não parecem uma tática inteligente. O presidente da Câmara é quem organiza a pauta de votações e decide se aceita ou não eventuais pedidos de impeachment. Bolsonaro deveria ter aprendido essa na época em que frequentava o gabinete de Eduardo Cunha.
Homenageado com um boneco que o comparava ao Super-Homem, Sergio Moro definiu as marchas como “festa da democracia”. “Sem pautas autoritárias”, sentenciou, no Twitter. O ministro não circulou por Copacabana, onde faixas exibiam dizeres como “Os partidos políticos no Brasil são facções criminosas” e “Trabalho para sustentar vermes e parasitas dos três poderes”.
Em Curitiba, a passeata bolsonarista produziu um instantâneo do nosso tempo. Vestidos de verde e amarelo, manifestantes subiram as escadarias da Universidade Federal do Paraná e arrancaram uma faixa onde se liam quatro palavras: “Em defesa da educação”. Foram aplaudidos.