Chamada de cana. Por Heraldo Palmeira – Heron Cid
Bastidores

Chamada de cana. Por Heraldo Palmeira

24 de março de 2019 às 12h00
Eu estava num local que não faz parte do meu trajeto tradicional. Precisava entregar uns documentos numa agência bancária e cheguei pouco depois das dez da manhã. Como o banco só abriria as portas às onze, tratei de tomar um café por ali mesmo.

O homem negro, pobre, roupas surradas se aproximou do balcão. Parou no fundo, do meu lado esquerdo. Com certo constrangimento, colocou uma moeda de um real no tampo de azulejo branco, impecavelmente limpo, e murmurou alguma coisa incompreensível para o balconista – que já conhecia de sobra o freguês e o pedido. Ao mesmo tempo do murmúrio, o homem também levantou o polegar, complementando sua comunicação particular.

Em seguida, se aproximou mais de mim trazendo junto um odor menos pior do que eu imaginava. Pensei que me abordaria, talvez para pedir dinheiro ou outra coisa qualquer. Mas ele apenas passou por trás e caminhou na direção do balconista, do outro lado do estabelecimento.

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