A milícia ganhou mais uma. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

A milícia ganhou mais uma. Por Ricardo Noblat

19 de fevereiro de 2019 às 10h30
A demissão relâmpago de um ministro com direito a gabinete no Palácio do Planalto e assento nas reuniões diárias do presidente da República foi creditada a uma decisão de foro íntimo de quem pode mais.

Ou seja: o presidente não reconhece o direito dos seus governados de saber os motivos que o levaram a chamar de mentiroso um dos seus principais ministros, demitindo-o cinco dias depois.

Uma questão de Estado foi reduzida a uma questão de foro íntimo – do presidente que preferiu não dar explicações, e do ex-ministro que prometeu falar grosso, mas que acabou mudo.

Que o presidente não se queixe, pois, de informações de boas fontes que tentam iluminar uma crise política que ainda não tem data para acabar e que poderá comprometer o destino do seu governo.

Bolsonaro e sua prole há muito desconfiavam da lealdade de Gustavo Bebianno. A ele atribuíam vazamentos sobre as ligações da família com grupos de milicianos no Rio de Janeiro.

A luz vermelha do clã acendeu quando Bebianno, no último dia 6,  reuniu-se no Rio com o diretor interino do Hospital Federal de Bonsucesso, Paulo Roberto Cotrim de Souza.

Cotrim de Souza ouviu de Bebianno:

– Eu gostaria de dizer ao senhor que há duas formas de fazer as coisas: uma pelo amor e uma pela dor. A nossa campanha, do presidente eleito, teve facada, sangue, suor e lágrimas. Nós não vamos nos intimidar com ameaças veladas.

Uma equipe do governo federal havia antes visitado o hospital e fora ameaçada de morte. Ao blog da jornalista Andrea Sadi, da GloboNews, Bebianno diria depois que há não só suspeitas “como fortes indícios” de envolvimento da direção do hospital com milícias.

Milícia é um assunto delicado para a família Bolsonaro. Policiais e ex-policiais que fizeram ou que fazem parte de milícias sempre deram cobertura às atividades políticas dos Bolsonaros e receberam em troca homenagens, condecorações e sabe-se lá mais o quê.

Foi Bolsonaro, o pai, por exemplo, quem empregou Queiroz e parte da família dele no gabinete do seu filho Flávio, na época deputado estadual. Por sua vez, Queiroz empregou ali parentes de um ex-chefe de polícia, por ora foragido, acusado de mais de 100 assassinatos.

Quando se soube que parte dos salários pagos a assessores de Flávio foi parar na conta de Queiroz, e que por sua vez um cheque de Queiroz foi parar na conta da mulher de Bolsonaro, onde Queiroz se escondeu? Bingo! Em área sob o controle de milícias.

De sorte que Bebianno, o responsável pela indicação do empresário Paulo Marinho para suplente de Flávio que se elegera senador, meteu-se, querendo ou não, em terreno pantanoso, do qual é muito difícil escapar com vida.

Conservou a vida. Perdeu o emprego. O sistema é foda, parceiro.

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