Boechat, um homem bom. Por Ana Paula Henkel – Heron Cid
Bastidores

Boechat, um homem bom. Por Ana Paula Henkel

14 de fevereiro de 2019 às 10h00

Num domingo de 2018, um menino de oito anos abordou o Papa Francisco numa visita à Paróquia de São Paulo da Cruz, no sul de Roma, e perguntou se seu pai, recém falecido e ateu, seria recebido por Deus no céu. Emocionado, o pontífice respondeu: “esse homem podia não ter o dom da fé, mas era um pai que criou um filho como você. Deus tem um coração de pai, como seria capaz de deixá-lo longe?”.

Lembrei emocionada deste momento tão bonito e delicado ao pensar em Ricardo Boechat, um ídolo não apenas para mim, mas para milhões de brasileiros. Argentino de nascimento como o Papa e ateu como o pai do menino romano. Meu coração não tem qualquer dúvida que o par mais vívido de olhos azuis que já conheci se abriu na frente de Deus há dois dias e eles puderam ver que tudo de bom que ele fez em 66 anos não foi em vão.

Nesta triste semana, testemunhamos que cada um tem seu próprio Boechat guardado na memória, por isso divido aqui com vocês o meu. Boechat sempre foi um apaixonado pelo meu esporte e nunca houve uma vez, entre as centenas de vezes que nos encontramos em competições, premiações ou apenas passeando no Leblon, que ele não me dissesse: “Aninha, que orgulho eu tenho do nosso vôlei!”. Independentemente do assunto que estávamos falando, era sempre com essa frase que ele se despedia. Ele gostava de comentar as partidas, fazia críticas, analisava nossa performance do último jogo, mas sempre com uma mensagem de incentivo, carinho e força. Ele torcia por nós de coração e, tenho certeza que falo por todos os atletas brasileiros do vôlei, o amor era recíproco.