O kit oferecido por Bolsonaro. Por Míriam Leitão – Heron Cid
Bastidores

O kit oferecido por Bolsonaro. Por Míriam Leitão

25 de outubro de 2018 às 09h30
Jair Bolsonaro (Evaristo Sá/AFP)

Os eleitores de Jair Bolsonaro foram atraídos por uma das várias promessas que estão incluídas em seu apelo eleitoral. Mas cada um fez sua escolha no kit que o candidato do PSL ofereceu. Alguns acreditam que ele tem uma solução milagrosa contra a violência, como um dia houve quem apostasse que Collor mataria a inflação com um tiro. Outros acham que o conservadorismo dos costumes vai prevalecer. Há os que votam nele porque os pastores mandaram. Muitos votam com raiva da crise econômica e do desemprego. Uma grande parte dos eleitores está com ele por ser antipetista. Alguns imaginam que ele acabará com a corrupção.

Todo candidato que chega tão confortável à reta final da campanha é porque conseguiu se vender bem como produto eleitoral. Pela soma de seus acertos e dos erros dos adversários. Mas cada grupo de eleitores projeta em Bolsonaro a solução para o seu problema, ainda que ele não esteja oferecendo uma proposta concatenada que indique saber o caminho para aquele drama. A violência, por exemplo, é assunto complexo que não será resolvido com liberação de posse e porte de armas, nem com redução da maioridade penal. Ele não deu qualquer resposta para quem quer de fato saber como vai enfrentar e vencer o poder das facções criminosas, do tráfico, das milícias, da falta de integração entre as polícias, dos presídios. Para nada disso houve respostas nas entrevistas, no programa ou na mídia social. Mas, o sinal dos dedos do candidato simulando uma arma passou a ideia de que ele dará “um tiro” e tudo estará resolvido.

A corrupção vem sendo enfrentada pelas instituições que o Brasil construiu ao longo dos últimos 30 anos, as mesmas que tantos na sua campanha afrontam, como fez seu filho Eduardo contra o STF. O governo ajudou quando não interferiu na Polícia Federal. O Ministério Público e a Justiça Federal continuarão seu trabalho de investigação e punição dos casos de desvios, mesmo os que venham a acontecer num eventual governo Bolsonaro. Mas sua campanha tem o discurso mítico de que vai resolver tudo rapidamente, só por chegar lá. Não há uma proposta de transparência e controle que confirme racionalmente essa ideia. É apenas o marketing de que vai limpar tudo, como prometeu Jânio Quadros com sua vassoura, ou Collor com os seus marajás. É da natureza das campanhas eleitorais que as propostas sejam simplificadas pelo marketing, mas uma democracia já amadurecida como a do Brasil merecia ter mais do que meia dúzia de clichês sem significado concreto.