Falta aos Bolsonaro noção de institucionalidade. Por Josias de Souza – Heron Cid
Bastidores

Falta aos Bolsonaro noção de institucionalidade. Por Josias de Souza

22 de outubro de 2018 às 08h45

Não passa semana sem que Jair Bolsonaro, seus filhos ou seus auxiliares pendurem nas manchetes um cacho de declarações polêmicas. O grupo dá frases tóxicas como a bananeira dá bananas. A penúltima esquisitice veio na forma de um comentário do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O filho do presidenciável favorito declarou que ”para fechar o STF basta um cabo e um soldado”. Disse também que se o STF impugnar a candidatura do seu pai “terá que pagar para ver o que acontece.” Indagou: “Será que eles vão ter essa força mesmo?” Ai, ai, ai.

Feita em 9 de julho, a gravação é anterior ao primeiro turno da eleição. Eduardo Bolsonaro dava palestra na cidade paranaense de Cascavel, num curso preparatório para concurso da Polícia Federal. Um dos alunos perguntou se o Exército poderia agir caso o STF impugnasse eventual vitória de Jair Bolsonaro. Um expositor com dois neurônios diria que é impensável uma intervenção do Supremo num processo eleitoral submetido às normas constitucionais. Sobretudo considerando-se que as questões eleitorais estão afetas ao TSE, não ao STF.

O filho do capitão, entretanto, achou sensato injetar no impensável uma dose de inimaginável. Declarou o seguinte: “Aí já está encaminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí, quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você tá indo para um pensamento que muitas pessoas falam, e muito pouco pode ser dito. Mas se o STF quiser arguir qualquer coisa —recebeu uma doação ilegal de cem reais do José da Silva e, então, impugna a candidatura dele. Eu não acho isso improvável, não…”

Após informar que considera ”provável” o impensável, Eduardo Bolsonaro engatou uma segunda e prosseguiu: ”Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não. O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, milhões na rua? ‘Solta o Gilmar, solta o Gilmar’. Com todo respeito que tenho ao excelentíssimo ministro Gilmar Mendes, que deve gozar de imensa credibilidade junto aos senhores.”

O presidente da República representa um símbolo para a nação. Toca-se o hino nacional onde ele se apresenta, hasteia-se a bandeira. Cada ação sua é exposta ao público nas manchetes. Sua vida e a de sua família estão expostas a permanente escrutínio. Dele se espera que evite procedimentos e declarações vulgares. O mesmo vale para os filhos, um deputado e um senador. Na bica de virar chefe de Estado, Jair Bolsonaro ainda não deu demonstrações de que compreende a dimensão do cargo se dispõe a ocupar. Os filhos tampouco servem como referência dos valores que o presidenciável diz representar.

Falta aos Bolsonaro uma noção qualquer de institucionalidade. Ainda assim, recebem votos. Muitos votos. Depois de examinar o comportamento de políticos como eles, que, por serem representantes de parcela expressiva da população, representam o melhor da sociedade, uma dúvida se impõe: a oferta de candidatos é escassa ou o eleitor brasileiro parou de evoluir?

A despeito da existência de um vídeo que não deixa dúvidas quanto ao despautério dos comentários, até Jair Bolsonaro duvidou: ”Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra.” Mas o filho Eduardo viu-se compelido a confirmaro inegável: ”Acredito que o vídeo não é motivo para alarde, até porque eu mesmo o publiquei em minhas redes sociais há quase quatro meses. Trata-se de mais uma forçação de barra para atingir Jair Bolsonaro…”

Na campanha presidencial de 2018, se os resíduos psíquicos fossem concretos, não haveria rede de esgoto que bastasse.

UOL

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