O golaço de CasaGrande. Por Gustavo Krause – Heron Cid
Bastidores

O golaço de CasaGrande. Por Gustavo Krause

18 de junho de 2018 às 06h57

“Copa do Mundo é como diamante, vale pela sua raridade”. A frase é do historiador Hilário Franco Júnior, autor de A Dança do Deuses – Futebol, Sociedade, Cultura, que, seguindo a máxima de Nelson Rodrigues, compreendeu que no futebol o “pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”. Para ele, a realização da Copa, em tempo mais curto, banalizaria o maior espetáculo da Terra e aniquilaria o calendário de importantes competições.

Atualmente, cientistas sociais compreenderam e passaram a tratar o futebol como um fenômeno social que tem uma linguagem e estética peculiares para embasar a cultura do futebol e, através dela, identificar, ainda que de forma insuficiente, diferentes estilos de vida de um povo.

Neste sentido, o esplêndido livro de José Miguel Wisnik, Veneno Remédio – o Futebol e o Brasil, afirma: “é um fato irrebatível de que o Brasil é uma droga, em toda potência ambivalente da expressão que se caracteriza por ser ao mesmo tempo mortífera e salvadora, redentora e destrutiva, dividindo-se e repondo-se, sem se decidir por essas faces opostas”.

Com efeito, o futebol que nasceu global, obra do Império Britânico, mexe com nacionalismos, sentimentos patrióticos, mas não se desgruda da identidade, bandeiras e do ranger de dentes tribais mesmo com a internacionalização dos times, autênticas legiões estrangeiras, desde a lei Bosman/1995. De fato, a Copa é um diamante de brilho universal.

Durante um mês, o futebol ganhará sua amplitude planetária com significados ambivalentes e contraditórios. No Brasil, “a pátria (não) calça chuteiras” como antigamente. Sete toneladas de chumbo sufocam a alma nacional que se tornou descolorida e triste. Porém, a repatriação de craques consumados, uma comissão técnica responsável e competente formam uma seleção competitiva e com cara de poesia, diferente do futebol/prosa, jogado pelos europeus na insuspeita comparação de Pasolini.

Às vésperas de assistir a 15a Copa, (1958-2018), retomei as leituras sobre o futebol e me emocionei com um gol muito especial, feito fora do campo, que decidiu jogo jogado contra um time de demônios: refiro-me ao golaço de Casagrande. Pela primeira vez, vai a uma Copa “limpo” e, desta vez, como incansável centroavante combatente do vício.

O que escreveu, junto com Gilvan Ribeiro, Casagrande e seus Demônios, está escrito e, como disse Juca Kfoury: “corajoso, tocante, verdadeiro e delicado”. Uma lição de vida. Sem disfarce.

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