Belchior, o melhor show que não fui – Heron Cid
Opinião

Belchior, o melhor show que não fui

30 de abril de 2017 às 13h16 Por Heron Cid
Cantor e compositor se despede da vida longe do "som e da fúria", "deixando tudo de lado"

Música é a estética que mais desperta sensibilidade. O som, a melodia, os acordes, a voz… Tudo coopera para aflorar emoções e memória auditiva.

Aos meus ouvidos, poucos artistas sonoros conseguiram tocar tanto suas notas e letras ao meu coração, em várias fases dessa ainda curta trajetória de vida, quanto Antônio Carlos Belchior. Mesmo nesses poucos 33 anos de “sonho e de sangue e de América do Sul”.

A música de Belchior é singular. Da intelectualidade dos temas à leveza, quase inocente, de um conformado e rebelde “rapaz latino americano”.

A crítica vestida em sua “Velha Roupa Colorida” ou nas vezes que idealizamos a vida “Como nossos pais”, e depois experimentamos a realidade “A Palo Seco”.

Carrego adolescente a identificação com a obra desse sobralense, talvez porque – feito ele – também “eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei” na cidade grande e tive que mostrar minha “Fotografia 3×4”, depois de ter “os pés cansados e feridos de andar légua tirana”.

Sou um tanto meio Belchior, pouco afeito as teorias porque “amar e mudas as coisas me interessam mais” e “e meu delírio é a experiência com coisas reais”. Como ele, compreendo que “o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual”.

Tal qual o poeta do som, estou sempre disposto a me reinventar e “viver as coisas novas/que também são boas”, sem ter medo de recomeçar “Tudo outra vez”.

Vencido o “Medo de Avião”, cá ficamos nós – admiradores e fãs de seu legado artístico – com sua voz, seus poemas, sua paixão “Brasileiramente Linda”.

Na platéia em que não estive, certamente, declamaria entre “Galos, Noites e Quintais” por lembrar infância em que “era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais”.

Só poderia mesmo compreender e entender o “meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver” quem tem um “ coração de vidro/como beijo de novela”. Um “Coração Selvagem”, como o de Belchior.

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