O perigoso mundo tóxico para o jornalismo limpo de militância – Heron Cid
Opinião

O perigoso mundo tóxico para o jornalismo limpo de militância

30 de janeiro de 2021 às 17h43

Antes de sair às férias, o jornalista Josias de Souza, um dos melhores e mais ácidos textos da imprensa contemporânea, pediu orações.

Viciado na atmosfera tóxica do mundo virtual, não sabia como seu organismo reagiria ao ar puro do universo analógico.

Uma ironia, claro. Refinamento próprio dos que sabem usar o humor em favor da crítica.

A atmosfera tóxica – nas palavras de Josias – é aquela onde “petistas me chamam de ‘golpista’ e bolsonaristas me classificam de ‘comunista'”.

Reconheci-me na didática frase do veterano.

Não que tenha como amarrar suas sandálias, mas porque esse é o destino/condenação de qualquer jornalista ainda vacinado da tentação da militância.

E isso serve para qualquer escala: do topo, que ele ocupa, à planície, onde me encontro.

Não condeno colegas que optam por um jornalismo engajado. Muito menos parte da plateia que o reivindica para representar sua bandeira. Cada qual com seu cada qual.

Para quem vai na contratação, são comuns, quase rotineiros, os estigmas contraditórios reservados aos que mantêm o gume afiado para os lados opostos dessa polarização. Incluindo aí cortes no centro da carne.

Já cansei de testemunhar disso nos comentários das minhas redes sociais. E tem aqueles leitores/seguidores que só lêem, deliberadamente, o que querem.

Se for um adepto da esquerda, ele detonará qualquer análise diferente de sua forma sistemática de ver o governo. Mas, jamais dirá um pio quando aparece na linha do tempo uma crítica a erros de Bolsonaro.

Finge que não viu ou não leu. Porque já definiu na sua cabecinha que este aqui é um baita de um fdp bolsonarista. Pronto.

Tem também a tiazinha de perfil verde-amarelo. Ela só aparece para defender seu “mito” e acusar tudo que se publique de distorção, manipulação… No quengo dela já está decidido: sou mais um esquerdista.

Nem importa se no dia anterior o colunista foi escrachado pelos fanáticos do clube da esquerda, porque, com esforço, cometeu o crime de identificar algum mérito do presidente.

Tem nada não. Eis a fatura a ser paga por quem não firmou compromisso com militância. Por quem se destina a analisar fatos, não a comentar pessoas. Fatos independem de pessoas. E de lados.

Mas, esse preço não tem preço. Até chega a ser divertido e reconfortante. Significa que, apesar de tudo, você se conserva são e limpo nesse ambiente doente e intoxicado.

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