Apenas um gole de sensatez – Heron Cid
Opinião

Apenas um gole de sensatez

24 de dezembro de 2020 às 15h07 Por Heron Cid
Rede pública de saúde no Brasil acumula 23 mil internos de covid-19, às vésperas do Natal (Foto: Sílvio Avila/AFP)

A pandemia reorientou prioridades. De empresas, instituições, organizações, famílias e indivíduos. Todos, sem exceção, precisaram reordenar a vida, o trabalho, o lazer.

Não sem razão. A vida, acima de qualquer outra lógica, tem seu lugar no topo da aventura humana na terra.

É bem verdade que o preço econômico imposto vem sido altíssimo e muito CPF e CNPJ paga caro o sacrifício. Sem preço, porém, é o fôlego da existência.

Por isso, é com certa incredulidade que se testemunha a guerra pela abertura, a qualquer preço, custo e em tempo integral, de bares e restaurantes nestes 24,25, 31 e 1º.

Uma coisa seria regredir e fechar de uma vez estes estabelecimentos até essa nova onda de covid arrefecer, sem data. Seria radical, apesar de justificável pelo grau de contaminação e lotação de UTI’s.

Neste exato momento, às vésperas do Natal, existe 23 mil pacientes internados por covid. Só nas enfermarias e UTI’s da rede pública de saúde.

Decreto estadual na Paraíba reduziu o funcionamento de bares e restaurantes para até as 15h, numa tentativa de recolher mais cedo as pessoas e aglomerar menos em dias de presumido grande movimento, quando tudo recomenda cautela.

Uma forma de evitar, por exemplo, que os de pouca consciência (que são muitos) emendem almoço e jantar e varem madrugadas em festas e bebedeira, anestesiados do perigo que circunda a todos.

Entre futilidade renunciável e saúde pública, vivemos uma guerra em torno do absurdo. E o absurdo de a esta altura do maior desafio de nossa geração precisarmos irracionalmente travar esse tipo de guerra. Uma guerra perdida só pelo fato de existir.

Com os dados que temos e as milhares de mortes todos os dias, a renúncia de esticar aglomerações em quatro dias e horas específicas não deveria ser uma questão de decreto.

Deveria ser caso de consciência coletiva. Senão, de empatia. Senão, de humanidade, de cidadania, de educação básica… Sem nada disso, que fosse ao menos de instinto de sobrevivência.

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