Três dias de greve dos caminhoneiros. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Três dias de greve dos caminhoneiros. Por Reinaldo Azevedo

24 de maio de 2018 às 08h51 Por Heron Cid

Os três dias de greve dos caminhoneiros evidenciaram o que acontece num país em que a chamada classe política está destruída. Articulistas das mais diversas tendências — do petista que acha ser tudo culpa de Michel Temer ao anarquista estilístico, que é contra tudo porque acha ser essa a sua profissão — viveram momentos de festa, como se o caos provocado por uma categoria estivesse a indicar a fraqueza deste ou daquele em particular. Não! Sem qualquer exagero, o que sai ainda mais fragilizado desse processo é a própria democracia. Até porque é visível que o presidente e seu entorno são o que resta de bombeiros no país. Todos os outros gostam de riscar fósforos e de acender isqueiros perto do tanque de gasolina da falta de combustível.

Existem picaretas políticos em festa. “Ah, o governo teve de ceder; o governo beijou a lona”. É mesmo? E isso é efetivamente bom para quem? Fiquemos em dois aspectos do problema, emblemáticos não do Brasil do presente, mas do que vem pela frente.

Vamos ao primeiro. Pedro Parente, presidente da Petrobras, anunciou que, por 15 dias, haverá uma redução de 10% do preço do diesel, e isso significa que R$ 350 milhões deixarão de entrar nos cofres da empresa. Aqui e ali, leio, em tom de censura, que a direção está cedendo à chantagem, sugerindo que sua adesão à correta política de flutuação de preços, segundo a cotação internacional do petróleo, então não era para valer. O impressionante e que se empresta um tom critico à decisão de Parente como se a sua escolha tivesse sido antes elogiada.

E não foi. Afinal, reconhecer que o presidente da Petrobras a recuperou dos escombros a que foi relegada por Dilma corresponderia a admitir ao menos uma miserável coisinha positiva no governo Temer. E, como se sabe, com raríssimas exceções, parece ser moralmente proibido afirmar que esse governo fez ao menos uma escolha correta — já que não se quer admitir o conjunto dos acertos.

O segundo aspecto que se destaca na crise é oportunismo asqueroso de uma figura da política que revela um comportamento crescentemente tóxico. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que finge ser candidato à Presidência da República, era a peça inicialmente escolhida pelo Alto Comando do Golpe contra Temer nas duas iniciativas lideradas por Rodrigo Janot para derrubar o presidente. Quando percebeu que não conseguiria reunir o número necessário de votos para aprovar o afastamento de Temer, então ele brincou de ser o principal fiador da rejeição às denúncias.

O pior mistificador é o que acredita na própria mentira. A partir de então, autoproclamou-se vice-rei do Brasil. O governo enviou a Medida Provisória de reoneração da Folha em março do ano passado, o que daria alguma folga fiscal. Foi sabotada por Maia. O texto foi retirado e, em seu lugar, apresentado um projeto de lei. O presidente da Câmara, na sua ânsia por protagonismo e atendendo a pressões de sua clientela, sentou sobre o texto. Agora, com a crise dos combustíveis, o dito “liberal” Rodrigo Maia critica, ainda que de modo enviesado, a correta política de preços da Petrobras, comanda a aprovação pela metade da reoneração — para 28 dos 56 setores — e aprova o corte do PIS-Cofins para combustíveis, chamando para si o suposto mérito da medida.

Vale dizer: em vez de atuar para amainar a crise, Maia, na verdade, age para desgastar ainda mais o governo, como se isso pudesse lhe trazer algum benefício que não o psicológico —psicopatológico, eu ousaria dizer. Uma coisa é certa. Perdem com a crise o Brasil, os brasileiros e a Petrobras. Melhor para oportunistas e pistoleiros.

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