O depoimento logo abaixo é um artigo do jornalista Evaldo Costa, paraibano de Parari, e atual secretário de Comunicação de Pernambuco.
Ele foi escrito logo depois de uma longa entrevista que me concedeu em 2014, no então Correio Debate (Correio FM), minutos depois do acidente que abateu o candidato a presidente Eduardo Campos, de quem foi secretário em seus dois governos.
É um relato tomado de emoção horas depois de uma tragédia nacional. No caso de Evaldo, uma tragédia pessoal.
O fato aconteceu há três anos. Vale a pena relembrar o escrito publicado no Jornal do Commércio.
Eduardo Campos, presente!!!
Não tenho ideia de quantos vôos fiz acompanhando Eduardo Campos. Como ministro da Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2005, como pré-candidato a governador entre 2005 e 2006 e, sobretudo, como governador, entre 2007 e 2014, cortamos o Brasil pelos ares várias vezes. Nos mais diferentes tipos de aeronaves, de jatos modernos a teco-tecos. Medroso como sou, algumas vezes me assustei com solavancos mais bruscos. Ele sorria, tirava onda, tentava me encabular. Sereno, dormia a sono solto nas viagens mais longas.
De sua cadeira, de frente para a cabine de comando, antecipava os movimentos dos pilotos. Falava como um perito, descrevendo os procedimentos. Tinha tanta familiaridade com aviões que a ideia de que fosse perder a vida num acidente aéreo nunca me passou pela cabeça. Como se sua mera presença na cabine bastasse para fazer com que tudo ficasse bem no final. E, assim, confortado, eu próprio conseguia tirar o meu cochilo…
Ontem pela manha ouvi no rádio do carro fragmentos de noticia sobre um acidente com helicóptero em Santos. Não era helicóptero, como sabemos hoje. Eduardo, Carlos Percol, Pedro Valadares, Marcelo Lira, Alexandre Severo e dois aeronautas sucumbiram, entre chamas e destroços.
Perdi alguns dos meus melhores amigos. Percol foi como um filho mais velho, que conheci quase um estagiário e acompanhei até às posições que ocupava até ontem. E perdi a pessoa que mais acreditou em mim entre todas as que conheci. Nunca ninguém me delegou tanta responsabilidade quanto Eduardo Campos. Fez isso até os últimos dias de sua vida fulgurante, ao endossar de forma silenciosa, mas firme, minha candidatura a deputado federal.
Mas não vou permitir que o que tenho a dizer sobre sua perda tenha a ver comigo e com meus projetos de vida. O que importa, se fato, dizer aqui é que o Brasil perde com sua partida inesperada a maior chance visível de iniciar, imediatamente, o ciclo histórico exigido pela sociedade brasileira.
Depois do ciclo da redemocratizacao política veio o da estabilidade econômica. Em seguida ao período em que conseguimos reduzir as desigualdades sociais terá que vir, necessariamente, um período em que reformas politica, fiscal e administrativa farão o Brasil contemporâneo dele mesmo, com PIB de sétima economia planetária e educação e saúde públicas de primeiro mundo. Eduardo, pelo que fez em Pernambuco, era o brasileiro mais talhado a liderar esta revolução.
Sua ausência não deve, entretanto, ser impedimento para esse passo à frente. Se o ensino médio de Pernambuco pode ser em tempo integral, toda o ensino público no Brasil terá que ser o dia inteiro, como é nos Estados Unidos, na Franca, enfim, em qualquer lugar cujas elites olham o próprio futuro e a qualidade de vida do seu povo com atenção e generosidade. É responsabilidade de cada um de nós responder “presente” por Eduardo e manter acesa a chama, a bandeira erguida, o sonho traduzido em mapa gravado na alma, na palma da mão.