Quem entrava na porta principal do mercado público de Marizópolis era tomado pela imagem de bancas, uma por cima das outras. Tinha de tudo. De redes de dormir a lamparinas. De artigo de couro a fumo de rolo.
Pelo labirinto de ofertas, produtos e feirantes com palavras de ordem, era possível encontrar também comida boa para aliviar a fome no bucho pelas horas do almoço.
Nas calçadas do lado de fora, cavalo, burros, jumentos e carroças enfileiradas e prontas para levar mercadoria para sítios distantes das redondezas.
Lá no fundo do mercado, estava a parada obrigatória de todo domingo de feira: a tarimba sortida e colorida das frutas de Chico Salomão, a imagem e cara do lugar.
Banana prata ou casca verde pendurada para escolher, verduras, laranja, uva verdinha, manga espada caída do pé, seriguela amarela e a maçã – rainha de todas – perfumando o ambiente e o nariz de quem se aproximava.
Com seu jeito alegre, Chico cativava todo mundo para perto. O sorriso largo no rosto e conversa aprumada na boca atraía clientela. Ora com agrado e descontos camaradas, ora vendendo fiado e anotando na caderneta.
Se hoje em dia atravesso de uma ponta a outra o mercado – agora abandonado e solitário – ainda posso ouvir a voz firme de Chico, ecoando pelos cantos do lugar e contando os anos no calendário.
A tarimba não está mais lá. Mas ele e as doces lembranças continuam vivas. Como frutas boas e saborosas amadurecidas no tempo da saudade.
*Crônica dedicada aos familiares e a um dos personagens da história de Marizópolis, falecido no dia 03/02/2024.