Exausto da jornada tripla, havia dias que dormia em frente ao computador na tentativa de revisar os conteúdos das aulas. Numa dessas, no meio de um cochilo e sonhando com dias melhores, abriu os olhos e se deparou com uma frase na tela: “O esforço nunca é em vão”. Guardou a mensagem como um lema de vida.
Rápido, seguro, econômico e eficiente. Eram essas as qualidades prometidas pelo jovem mototaxista Jean Francisco para ganhar os clientes de Arcoverde, sertão de Pernambuco.
O cartão do Moto Service passou de mão em mão até ganhar clientela fiel. O rapaz cumpria o prometido e ninguém jamais reclamou das viagens ao preço camarada de R$ 1 real naqueles fins dos anos 90.
Estudante de Direito em Caruaru, o jovem saía de todo fim da tarde para a faculdade, uma hora e meia distante, é só botava os pés em casa na madrugada.
Antes do sol raiar, já estava de pé para o seu serviço fixo. Rapidinho entregava de moto os exemplares do Jornal do Commércio, vindo do Recife, a todos os assinantes da cidade.
A leitura só atrasava nos domingos, quando o entregador acumulava a demanda de transportar – ida e volta – os marchantes da feira. Com dinheiro no bolso, buscavam amor fácil e comprado na solidão das noites e dos cabarés da rua.
Anos mais tarde, já formado advogado, delegado concursado e morador da vizinha Paraíba, voltou a abrir os olhos diante de um plenário lotado de gente e aplausos na Assembleia Legislativa do Estado.
Não estava delirando do cansaço da intensa e perigosa jornada contra a violência. Ele mesmo podia se reconhecer no reflexo do telão em frente à tribuna em que discursava.
Lá estava o mesmo Jean Francisco Nunes. No retrovisor da memória, o secretário de Segurança Pública, e mais novo cidadão paraibano, viu o mototaxista sonhador acenando. Lembrou da frase que nunca esqueceu e o acompanhou na garupa dessa viagem da vida. O esforço nunca é em vão mesmo.