João Pessoa, história de amor 'extremo' (A Crônica de Domingo) – Heron Cid
Crônicas

João Pessoa, história de amor ‘extremo’ (A Crônica de Domingo)

6 de agosto de 2023 às 15h04

Quem não tem um Gonzaga Rodrigues caça com as palavras. E somente no garimpo das emoções encontra pepitas de inspiração para reluzir as minas de belezas e afetos que desaguam em/de João Pessoa.

Ou recorre à poesia cantada de Belchior para lembrar muito bem o dia que cheguei. “Jovem que desce do Norte/Pra cidade grande/ Com os pés feridos e cansados de andar légua tirana”.

Pede emprestado a Caetano Veloso a “alegria-alegria” de quem caiu na rodoviária “sem lenço, sem documento”, com “nada no bolso ou nas mãos”, mas com uma cabeça cheia de sonhos.

E sonhos, ensina Márcio, Lô Borges e Milton, “não envelhecem” para quem o barco da vida atracou com o coração “na curva de um rio” de paixão por essa cidade Parahyba.

Mas são teus nativos que melhor cantam essa singularidade, em acordes e versos. Fuba nos lembrando do fulgor ensolarado desta terra tropical, mata verde e esperança, a “porta do sol” das Américas.

E Cátia de França mirando no fundo dos olhos para nunca esquecer do Cabo Branco e de “tuas areias em prata, o cheiro do mar, o peixe comprado na hora, o barulho das ondas”.

Os adotados, eu entre tantos, são pássaros que bateram asas e um dia encontraram aqui um ninho. Aconchegados, sobrevoam tuas praças, avenidas, mercados, planam no azul do mar e repousam nas tuas árvores atlânticas.

Um voo de amor que começa pelas margens, de mansinho em asas tímidas, e, de tanto bem querer, alcançam o extremo. Orientalmente linda. Um deslumbre da ponte do Sanhuá à Ponta do Seixas.

Até que, quando a gente pensa que te habita, logo descobre que és tu, João Pessoa, capital de 438 anos, quem faz morada em nós. Seus filhos – os de nascimento e os de pertencimento.

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