Recife, capital pernambucana, viveu ontem dois episódios contrastantes. No Ginásio Geraldão, uma plateia inteira vaiou durante o discurso da governadora Raquel Lyra (PSDB).
A gestora foi ridicularizada pela turba radical pelo simples fato de ser – numa solenidade oficial transformada em comício – uma adversária do dono do palco, o presidente Lula.
O que deveria ser encarado pelo público como ato de civilidade política e distensão institucional serviu de combustível para a hostilização ideológica de gente menos avisada. Entre as quais, as que diziam nas eleições condenar o ódio.
Praticam o que criticam.
A governadora fez escola de diplomacia. Convidada, foi ao evento como autoridade revestida do voto popular. Não como militante ou adesista. Talvez seja essa a diferença incompreensível para quem não sabe distinguir uma coisa de outra.
Destemida, a pernambucana não se intimidou. Em meio às vaias, deu a volta por cima com classe, firmeza e conteúdo. Aos que lhe deram as costas, estendeu as mãos e conjugou grandeza política.
Se Raquel deu uma aula de desprendimento, o presidente Lula teve uma postura impecável, em Pernambuco. Do microfone, diferente do silêncio na Paraíba, o petista falou e teve a coragem de se solidarizar com a governadora hostilizada.
O presidente pediu respeito aos convidados e defendeu a capacidade de convivência com os contrários. “Quando vaiaram a governadora, vocês me vaiaram também”, censurou, em tom de indignação.
Lula e Raquel deram uma aula de civilidade. Conceito em franca extinção num Brasil em trevas tóxicas das paixões e idolatrias políticas. De Pernambuco acendeu uma luz no fim do túnel.