Do Clube da Esquina à calçada do MaisPB, a entrevista de Lô Borges – Heron Cid
Bastidores

Do Clube da Esquina à calçada do MaisPB, a entrevista de Lô Borges

11 de fevereiro de 2023 às 19h12

Ninguém pode falar de Música Popular Brasileira sem inserir na conversa o emblemático Clube da Esquina, gravado por Milton Nascimento, Lô Borges e mais uma trinca de ases mineiros, em 1972.

Quase menino, a presença de Lô no álbum foi uma imposição do amigo Milton, que conhecera Borges e o irmão Márcio, vizinhos no Edifício Levy, em Belo Horizonte.

Depois desse disco, a vida deles nunca foi mais “como antes” e conseguiram tudo “que queriam ser”. Especialmente, para Lô, imediatamente contratado pela gravadora EMI-Odeon. Passou a desfilar entre os grandes compositores da MPB.

Milton se despediu recentemente dos palcos. Lô, com seus 70 anos, continua na estrada. Nesse fim de semana, ele parou na esquina do Portal MaisPB para conversar com Kubitscheck Pinheiro sobre seu mais novo trabalho.

“Não Me espere na Estação” é talvez a forma do artista dizer que, mesmo da “Janela Lateral” e porque “os sonhos não envelhecem”, a locomotiva da música não para e continua nos trilhos do “Trem Azul”.

Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos João Diniz 

Do Clube da Esquina, Lô Borges é o único que vem lançando discos anualmente – Os dois anos de isolamento social imposto pela pandemia multiplicaram a criatividade do artista. Borges acaba de lançar “Não Me Espere na Estação”, o quinto álbum inéditas, com letras do cantor e compositor César Maurício.

Não Me Espere na Estação” traz o vigor de novas composições de guitarra em letras contemporâneas e a expertise de Lô e César, este já se apresentou em parceria com grandes nomes da música paraense, como Nilson Chaves e Eudes Fraga, e se mantém como ídolo de outros tantos, músicos ou não. Ele e Borges já haviam feito parceria nos discos “Um Dia e Meio” (2003) e “BHANDA” (2009).

O novo trabalhou antecipa “Rio da Lua” (2019), com letras de Nelson Angelo; “Dínamo” (2020), com de Makely Ka; “Muito Além do Fim” (2021), em parceria com o irmão Márcio Borges; e “Chama Viva” (2022), com letras de Patrícia Maês. Os três últimos mencionados foram compostos durante a pandemia e, com o novo lançamento, Lô ainda teria um sexto disco em produção.

 Lô Borges (voz e guitarra) sons de guitarras, efeitos e pedais, assinando a direção musical sozinho e a coprodução musical com Henrique Matheus (guitarras) e Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão). Ainda, a gravação contou com Robinson Matos (bateria).

Clube da Esquina

Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta e Milton Nascimento se juntaram em 1972 fizeram o disco ‘Clube da Esquina’. O Lô Borges apareceu com o Beto Guedes vencendo um festival da canção com ‘Feira Moderna’, letra de Márcio Borges, irmão de Lô. LB é fantástico, um violonista excepcional, compositor. A discografia dele tem raridades ‘A Via-Láctea’ (1979) ‘Vida Cigana’ (1982) é maravilhoso. O ‘Disco do Tênis’ é fantástico”.

Em entrevista ao Portal MaisPB, Lô Borges fala do disco, da produção diária, do Clube da Esquina e de muitas esquinas onde sua voz chega.

MaisPB – Sua produção não para. Agora lançando Não Me Espere na Estação” com inéditas, numa parceria com o letrista César Maurício. Como aconteceu?

Lô Borges  Eu venho num processo longo, “Rio da Lua” (2019), com letras de Nelson Angelo; “Dínamo” (2020), com Makely Ka; “Muito Além do Fim” (2021), letras de meu irmão Márcio Borges; e “Chama Viva” (2022), com Patrícia Maês. Eu sou um cara que componho o tempo todo, eu gosto de estar no estúdio, gravar um disco novo. A minha profissão é uma efervescência criativa.

MaisPB – As canções e os arranjos já estavam prontos…

Lô Borges – Sim, eu compus para guitarra, que eu não fazia há anos. Eu adoro guitarra. Quando sentei, e fiz a primeira, a segunda, pensei vou chamar o César Maurício que é um cara da linha do Hard Roper, dos anos 80, do Punk Rock e até digo entre “aspas” – é um roqueiro, um grande poeta e acertei nas escolhas. 

MaisPB – As canções desse disco novo nos remetem para os anos 80, né?

Lô Borges – Na verdade, tem um elo que nos liga com a música que eu fiz no passado e a que faço nos dias de hoje, que é a minha identidade como compositor. Eu posso fazer um disco só com órgão de igreja, que estará lá o DNA que está no compositor Lô. Com esse agora não foi diferente, mesmo tendo sido feito com instrumentos que eu não usava há muitos anos, a guitarra, que ficou com uma sonoridade mais pesada e eu gostei do resultado. Desde criança que eu era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones.

MaisPB – A guitarra deu um tom especial ao disco?

Lô Borges – Sim, eu gosto de trabalhar com o trio Henrique Matheus (guitarras) e Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão). Ainda, a gravação contou com Robinson Matos (bateria). Eles entendem perfeitamente a minha composição, seja fazendo um disco de órgão, ou de guitarra.

MaisPB – A canção “Constelação”, a terceira faixa, tem uma pegada dançante?

Lô Borges – Sim. Esse cara é demais, uma parceira que eu tenho orgulho, muito querido. Desde 2003 que estamos juntos, mas em 2009 ele tinha feito um trabalho comigo.

MaisPB – Tem alguma canção que você gosta mais nesse disco?

Lô Borges – Eu não conseguiria apontar qual letra gosto mais, qual música nesse álbum e nos anteriores também. Quando eu componho e chegam as letras, já está aí a unidade do disco, porque muitas vezes eu fazia um disco com três, quatro letristas. De cinco anos para cá estou fazendo só com um letrista. É difícil qual letra eu gosto mais. Já o César Maurício, gosta mais de Flutuar – (quinta faixa)

MaisPB – Flutuar é uma canção que viaja com a gente…

Lô Borges – Sim, é uma canção forte e muito bonita.

MaisPB – A canção que fecha o disco “Setentões” é instrumental...

Lô Borges – Para encerrar o disco compus instrumental, que eu costumo dizer que as músicas descrevem órbitas. Essa música eu comecei a fazer em 1971. Só tinha uma parte e eu deixei ela sumida. De repente, eu estava compondo na guitarra e me lembrei desse tempo, dos anos 70 e inventei uma segunda parte. É incrível a música é tão mágica, que me dá oportunidade de encontrar comigo mesmo.

MaisPB – Aliás,  essa música tem uma homenagem?

Lô Borges – Ela é para homenagear Jimi Hendrix, que eu ouvia muito quando era mais garoto, a segunda parte da música) veio de súbito, espontânea. É essa coisa de lidar com canções, tipo lembrei por lembrar. Ela se chama Setentões porque simboliza a atmosfera dos anos 70, além dos guitarristas, tem os meus 70 anos que completei o ano passado.

MaisPB – Como você viu, sentiu, a emoção de estar todos juntos lá com Milton Nascimento, no Mineirão, no encerramento da turnê A Última Sessão de Música?

Lô Borges – Aquilo foi muito maravilhoso, foi uma emoção grande. O Milton foi o cara que me levou para música. O primeiro artista que gravou uma música minha – Para Lennon e McCartney”, com letras de Márcio Borges e Fernando Brant. Eu tinha 17 anos quando compus essa música. Ele gravou em 1970  foi sucesso total na carreira dele.

MaisPB – E logo veio um convite de Milton, para você gravar o disco o Clube da Esquina, né?

Lô Borges – Sim. Eu fui chamado para ser coautor do álbum, dividir o disco, mas a gravadora no primeiro momento não queria que Milton, já famoso e consagrado, dividisse o álbum com um ilustre desconhecido chamado Lô Borges, um adolescente de Belo Horizonte.

Lô Borges – Mas rolou, né?

Lô Borges – Ele (Milton) disse que não aceitaria e trocaria de gravadora. Mas fizemos o disco. Bituca sempre esteve muito presente na minha vida, eu participei nos últimos anos das três últimas turnês dele. Eu estou lá em “Uma Travessia”, que andou o Brasil inteiro,  quando ele fez a turnê “Clube da Esquina” eu participei de vários shows. Estou lá na turnê “A Última Sessão de Música”Eu não fiquei nostálgico, pensando que aquilo seria uma despedida. Não é o final de tudo.  Ele apenas vai parar com palcos e continuar compondo e gravando. Estar com ele naquele show foi bom, e achei que foi igual a todos os convites que ele me fez….

MaisPB – Esse disco vai sair físico?

Lô Borges –  Só nas plataformas. Meus discos eu pago tudo. Essa coisa de CD físico é só para colecionador. As pessoas não tem mais onde ouvir o CD. Os computadores não tem mais a janela de ouvir o disco.

MaisPB – As pessoas comentam Lô Borges não vem mais à Paraíba, não vem ao Recife…..

Lô Borges – É porque a minha produção é grande, viajo com vinte pessoas comigo. Eu não sou um  artista da mídia, sou independente e faço meu trabalho com a maior satisfação. A música está em mim, é como tomar banho, almoçar, tomar vinho e conviver com meu filho. Eu faço música por prazer. Na minha vida de compositor a fé é cega e a faca pré-amolada.

MaisPB – Cinquenta anos do Disco do Tênis?

Lo Borges – É uma vida. Quando eles ouviram O Girassol dos Seus Cabelos, Tudo Que Eu Podia Ser,  eles me ofereceram um contrato no mesmo ano do Clube da Esquina – ai assinei o contrato sem nenhuma música, foi uma loucura. Eu fazia a música de manhã e o letrista à tarde. Esse Disco do Tênis é muito caro para mim, ele fez com que eu compusesse até hoje.

MaisPB Está feliz, Lô Borges?

Lô Borges –  feliz pra caramba 

Para ouvir aqui  https://loborges.lnk.to/NaoMeEspereNaEstacaoPR

MaisPB

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