Glória à Maria (Por Heron Cid) – Heron Cid
Crônicas

Glória à Maria (Por Heron Cid)

3 de fevereiro de 2023 às 16h03

Qualquer um de nós tinha dela alguma reportagem que ficou na memória, uma cobertura que ficou para história, uma entrevista para não esquecer ou uma aventura de tirar o fôlego.

Glória Maria foi uma repórter na essência, uma vitoriosa por natureza. Negra e mulher num país e mercado preconceituoso, nunca aceitou um “não”.

Disse “sim” à uma profissão de grande exposição, marcada predominantemente por homens brancos. Muito mais ainda quando começou, em plena autoritária década de 70 sob regime ditatorial.

Atrevimento que não se intimidou diante de um João Batista de Figueiredo. “Censurada eu nunca fui, porque nunca dei tempo para censura”.

Teimosia que não se quedou ao racismo explícito e velado. “Sou negra e me orgulho, mas não sigo cartilhas”. Uma rebeldia consciente para se blindar da dor. “Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar.”

Qualidades protagonistas de arrebatador e irresistível vanguardismo, transpiração e inspiração que abriu portas para novas gerações do telejornalismo brasileiro.

Se foi Glória na TV, era também uma Maria brasileiríssima. Símbolo das marias cantadas por um Milton, de nascimento. Das que cantam e misturam cor, suor, dor, alegria e conservam a estranha mania de ter fé na vida.

Sempre rejeitou camisa de força. “Cobrada a me posicionar? Uma coisa que venho fazendo a minha vida inteira? Só sendo o que eu sou, não tem posicionamento maior que esse”.

Nunca se limitou. Os sonhos de menina pobre e preta voaram de asa delta, escalaram os degraus Himalaias e subiram os morros das favelas com a mesma postura que visitou palácios.

“Sempre falando com todo mundo…Sabe por quê? Porque isso significa que eu sou uma pessoa comum”. Tão comum na simplicidade que se fez singular. Gloriosa Maria!

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