Quando regressou a Marizópolis, distrito de Sousa, no sertão paraibano, lá pelos anos de 1984, o jovem jornalista Dionízio Gomes se deparou com dolorosa realidade.
Os amigos de infância e adolescência não estavam mais lá. Quase todos haviam afivelado as malas e ido embora em busca de sustento e de sobrevivência.
Ele estava vendo na prática – e da forma mais dura e saudosa – o êxodo do sertanejo para outras regiões do país.
Essa dor, essa saudade foi transformada, à época, em versos de uma poesia plangente da vida real.
Também vi isso em casa. Meu tio Naldinho deixou nossa família na rua Ana Rocha número 18 e ganhou o mundo por Rio de Janeiro e São Paulo.
De ano em ano, quando dava, ele descia na Viação Gontijo. Eram as férias de 30 sagrados dias para rever a gente e relaxar da vida dura e de trabalho pesado da cidade grande, em terras distantes.
Antes dele, meus tios-avós Zé e Chico Batalha fizeram o mesmo caminho. Um para a pauliceia e outro para os cerrados do Goiás.
Aqui e acolá também reapareciam. Mas, de tão longe, não tiveram tempo de dar adeus a mãe deles, dona Chiquinha, sepultada sem as lágrimas dos filhos por perto.
Tantas décadas depois, essa realidade do passado ainda persiste no presente desafiando o futuro de nossa juventude. Sertanejamente aguerrida.
Êxodo (Dionízio Gomes)
No sertão eu nasci e me criei
E depois me mandei
No sertão todo jovem age assim que nem eu
É o quadro normal da localidade
Quem disto foge é uma subversividade
E já é necessária a evidência da perspicácia sertaneja
Como fuga a uma revolucionalidade
No sertão jovem nenhum consegue seu meio de vida
Na luta pela resistência, como crivos e aderências
As fendas se abrem em forma de incicatrizáveis feridas
E as fendas nos jovens todos nós temos medos
Hoje os campos latifundiados, infrutíferos, desocupados
Possuídos por quem nunca abrirão mão de serem comandados
Explica a diáspora dos filhos dessa terra pelo mundo
Deixando claro o que para mim não é mais segredo
Hoje eu não encontro mais meus velhos amigos no sertão
Procuro por Romildo, por Bilô, por Lequim, por Chenfim, por um rol de amigos, e me respondem:
Foram para São Paulo ganhar o pão!