Enquanto Colômbia comemora aborto, Brasil viu hoje o poder da vida – Heron Cid
Crônicas

Enquanto Colômbia comemora aborto, Brasil viu hoje o poder da vida

22 de fevereiro de 2022 às 20h31
Everton Dorneles e a emoção da posse do filho, 24 anos antes "condenado" à morte e agora primeira pessoa com doença rara no Congresso Nacional

Um pai desse imenso Brasil viveu certamente a maior emoção da sua vida no começo da noite deste 22 de fevereiro de 2022.

Das cadeiras da Câmara Federal, o homem que não desgruda do filho desde o nascimento viu no alto do plenário a posse do primeiro deputado federal com doença rara (MPS) no Congresso Nacional de um país de 13 milhões de pessoas que convivem com a mesma dura realidade.

Impossível um filme real não invadir a mente de pai e mãe. Testemunhas das dores que sofreram juntos a cada diagnóstico obscuro, a cada porta fechada, a cada pergunta sem resposta.

No retrovisor da memória, as lágrimas represadas em silêncio por ver as do filho derramar contra a discriminação, a impotência diante da falta de empatia.

Mas, também as cenas da teimosia da esperança em cada pequena grande conquista, a cada nova pesquisa, novo medicamento, nova lei, e na alegria dos ombros encontrados no caminho.

Todo alvorecer, um motivo para comemorar na respiração ofegante, no corpinho frágil se agigantando e no coração persistente querendo viver mais. Mais um dia. Mais um dia. Mais um dia.

Essa imagem é um testemunho do poder da vida, do ‘impossível’ acontecendo bem diante dos olhos marejados, da voz embargada, do coração palpitante, das mãos trêmulas.

As mãos, tantas vezes usadas para levantá-lo das quedas, continuaram erguidas hoje. Dessa vez, para gravar e registrar na história e na alma o triunfo do filho.

Aquele mesmo filho com parecer de condenação, 24 anos atrás. Agora, não mais o garoto que questionava a Deus sobre tantas limitações, mas um homem consciente de sua missão.

A de lutar pelo direito à vida, a vida que alguns lutam pelo direito de eliminar, por livre opção e escolha individual, antes mesmo de inocentemente conhecer o mundo, de cumprir seu propósito existencial e humano.

Enquanto na Colômbia alguns “comemoram” o avanço da Lei do Aborto, o Brasil pode dormir hoje pensando: ainda bem que a mãe e o pai de Patrick Dorneles escolheram a vida. Ela é rara.

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