29 de outubro de 1966. Oito dias após uma avalanche de uma mina matar 144 moradores, destes 116 crianças dentro de uma escola primária, a rainha Elisabeth visitou a vila de Aberfan, no País de Gales.
A visita foi considerada tardia, mas a presença arrancou da soberana cena rara o protocolo inglês. Diante do desastre e do luto das famílias, a matriarca – conhecida pela frieza e autocontrole – chorou.
Na tragédia das chuvas da Bahia, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região duas semanas atrás, no começo da crise. Depois disso, morreram 21 brasileiros.
Calcula-se em mais de 77 mil desabrigados ou desalojados. Os afetados são quase meio milhão de baianos, mas as imagens recentes que marcam e surpreendem são as de Bolsonaro em pleno lazer, um contraste ao atual desespero dos baianos.
Para o momento de desalento, agravado substancialmente nos últimos dias, nenhuma viagem de ministro ou providência do governo, com envio de recursos financeiros e donativos, consegue ser maior do que o simbolismo da presença do presidente de um Brasil decididamente solidário.
Se falta a insubstituível figura do líder para alento e comando in loco, a indiferença das cenas do presidente em puro estado de diversão e clima de férias no sul do país, em oposição ao momento trágico, é de constranger até os gelados britânicos.
*Correção e atualização às 17h15