Cinco anos depois, o impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda é regurgitado por partidos de esquerda, especialmente o PT.
A narrativa de golpe é mais do que um compromisso político-partidário, é uma obsessão retórica a diminuir o impacto do desfecho catastrófico da Era Vermelha.
Em À Sombra do Poder, Rodrigo de Almeida, jornalista e assessor direto de Dilma, trata de bastidores da crise que apeou a ex-guerrilheira do poder.
Com relativo distanciamento da estratégica função que ocupava, Almeida descreve a então chefe da Nação como uma pessoa até bem intencionada, mas com enormes dificuldades de liderar, agregar e governar.
Com um governo e um partido metido no maior escândalo de corrupção da história brasileira, a economia no subsolo e a atestada incapacidade de interlocução política, Dilma viveu a “tempestade perfeita”.
Uma hecatombe que a ‘gerentona’ vendida por Lula ao distinto público não teve habilidade de contornar, apesar da heróica resistência pessoal.
A narração detalhada de Rodrigo de Almeida cria uma inevitável tentação de absorver a tese do ‘golpe’, no lugar de um processo parlamentar previsto na Constituição.
Até os pássaros do Palácio da Alvorada sabem que Dilma não fora cassada apenas pelas tais pedaladas. O “conjunto da obra” dela somada às revelações da Lava Jato fizeram da sua permanência um suplício tão asfixiante que valeu até empossar o sorumbático Michel Temer.
De fato, a petista caiu por uma inegável manobra (ou providência) política parlamentar. Impeachment é e será sempre assim: um encaminhamento próprio dos meandros da política para tirar a caneta quem produz mais problemas do que solução. Incluindo aí as vantagens do submundo congressual.
A jabuticaba encomendada por Renan Calheiros, nas barbas do presidente do Supremo e convenientemente aceita pelo PT para manter a elegibilidade da presidente cassada, permitiu a Dilma a oportunidade única do desagravo do eleitor.
O povo de Minas foi às urnas e disse “não” a ela. E cinco anos depois não há qualquer sinal de que o eleitor brasileiro (ou até mesmo o PT) gostaria de desagravá-la com um mandato. E isso diz muito e eloquentemente sobre o dilema golpe versus impeachment.