Cinco anos do debate do 'golpe'; povo já se pronunciou – Heron Cid
Opinião

Cinco anos do debate do ‘golpe’; povo já se pronunciou

3 de setembro de 2021 às 14h02
Dilma Rousseff protagonizou o fim melancólico da Era PT (Mauro Pimentel/AFP)

Cinco anos depois, o impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda é regurgitado por partidos de esquerda, especialmente o PT.

A narrativa de golpe é mais do que um compromisso político-partidário, é uma obsessão retórica a diminuir o impacto do desfecho catastrófico da Era Vermelha.

Em À Sombra do Poder, Rodrigo de Almeida, jornalista e assessor direto de Dilma, trata de bastidores da crise que apeou a ex-guerrilheira do poder.

Com relativo distanciamento da estratégica função que ocupava, Almeida descreve a então chefe da Nação como uma pessoa até bem intencionada, mas com enormes dificuldades de liderar, agregar e governar.

Com um governo e um partido metido no maior escândalo de corrupção da história brasileira, a economia no subsolo e a atestada incapacidade de interlocução política, Dilma viveu a “tempestade perfeita”.

Uma hecatombe que a ‘gerentona’ vendida por Lula ao distinto público não teve habilidade de contornar, apesar da heróica resistência pessoal.

A narração detalhada de Rodrigo de Almeida cria uma inevitável tentação de absorver a tese do ‘golpe’, no lugar de um processo parlamentar previsto na Constituição.

Até os pássaros do Palácio da Alvorada sabem que Dilma não fora cassada apenas pelas tais pedaladas. O “conjunto da obra” dela somada às revelações da Lava Jato fizeram da sua permanência um suplício tão asfixiante que valeu até empossar o sorumbático Michel Temer.

De fato, a petista caiu por uma inegável manobra (ou providência) política parlamentar. Impeachment é e será sempre assim: um encaminhamento próprio dos meandros da política para tirar a caneta quem produz mais problemas do que solução. Incluindo aí as vantagens do submundo congressual.

A jabuticaba encomendada por Renan Calheiros, nas barbas do presidente do Supremo e convenientemente aceita pelo PT para manter a elegibilidade da presidente cassada, permitiu a Dilma a oportunidade única do desagravo do eleitor.

O povo de Minas foi às urnas e disse “não” a ela. E cinco anos depois não há qualquer sinal de que o eleitor brasileiro (ou até mesmo o PT) gostaria de desagravá-la com um mandato. E isso diz muito e eloquentemente sobre o dilema golpe versus impeachment.

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