Pobre menina Joice (por Kubitschek Pinheiro) – Heron Cid
Crônicas

Pobre menina Joice (por Kubitschek Pinheiro)

31 de julho de 2021 às 10h54

Há 8 dias a deputada Joice Hasselmann foi atacada em seu apartamento ou fora dele. Talvez, no quarto – não sei, mas a notícia correu solta.

A polícia ainda investiga o que aconteceu com a parlamentar, mas não descarta que o marido possa ter agredido Joice, apesar de não ter nenhum elemento que sustente essa tese. Seria uma tese de doutorado?

Joice não se lembra de nada.

Joice não se lembra de quem a atacou.

Joice teve dois dentes quebrados, mas já deve ter colocado dentes novos. A aparência é tudo. Dinheiro é o que não falta.

Ninguém “estranho” entrou no prédio dela, foi o que concluiu a polícia da Câmara dos Deputados.

O “Canal Não Minta Para Mim”, do jornalista Ricardo Ventura fez duas análises, tratando o caso. Mas o cara não estava lá para saber o que realmente aconteceu. Choveu de comentários.
Sou do tempo em que em briga de marido e mulher não se mete a colher, mas essa matéria caiu, com o número assustador de feminicídio. Tem que meter a colher mesmo. Mas eu não sei se uma colher de chá ou de sopa. A querida Joice Hasselmann foi atacada.

O Brasil é um país muito engraçado. Uma deputada acorda espancada e só percebe isso ao ver o sangue no assoalho e não sabe quem lhe esmurrou.

Se fosse uma pessoa da comum, que vivesse à margem, uma pessoa pobre mesmo, talvez nem tivesse ido à delegacia, ou claro, já se saberia que o marido a teria espancado, quando o mais comum, é matar a mulher. Mas não é esse o nosso tema, porque hoje é sábado.

No poema Dia da Criação, Vinicius de Moraes fala de todas as situações que podem acontecer neste dia, porque hoje é sábado.

“Impossível fugir a essa dura realidade/Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios/Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas/Todos os maridos estão funcionando regularmente/Todas as mulheres estão atentas/Porque hoje é sábado”

Não poeta, nem todas as mulheres são de Atenas. A pobre menina Joice, é um exemplo. Estava dormindo e acordou espancada.

Joice estava perdida no sonho profundo do ardor da peleja, batendo-se com a valentia dos seus maduros anos. Estava no mundo da lua, em sua Brasília ingrata.

Sejam quais forem as previsões da sorte das cartas, os juízos finais dos astrólogos e os conselhos das cartomantes, Joice foi dormir Joice e acordou Macabéa, sem muita sorte na vida, arrastada por uma Clarice Lispector cruel, que lhe joga a morte ao sair da cartomante.

Acho que só os senhores imortais Galileu Galilei e Albert Einstein que, de repente, ressurgem na timeline podem descobrir a loucura da “amiga Joice” no grau do baixo astral no terreno desse jogo, que continua 1 a zero.

Tadinha da Joice. Foi afunilada num dos sentidos mais absurdos, o esquecimento. Sua excelência diz que não lembra de nada, como se ela estivesse fora de si e algo tivesse inquirido sobre o seu estado de espírito.

Se a deputada não lembra de nada, ela poderia ter acordado legal, usado os primeiros socorros e depois colocado os dentes. E priu. Nada teria acontecido.

Céus, onde estávamos? Ah, em 2018, quando Joice recebeu um pacote com uma cabeça de porco e uma peruca loira no seu flat.

Joice e sua respeitabilidade ingênua.

Kapetadas
1 – Se organizar direitinho, a gente faz um nada de cada vez.
2 – Não deixe pra amanhã o que você pode deixar no passado.
3 – Som na caixa: “ Te perdoo/Te perdoo porque choras/Quando eu choro de rir”, Chico B.

MaisPB

Comentários