De tão notório, o Centrão já virou uma espécie de entidade. Foi uma convenção, rótulo bem próprio da imprensa, para batizar os partidos pragmáticos do Congresso.
A expressão ganhou força depois a repentina descoberta (falsa por sinal) de que a política brasileira se divide entre esquerda e direita.
Um sofisma. A ideologia da nossa política é separada por entre quem está no poder e quem está fora. Só. Posturas, ideias, crenças e comportamentos se amoldam conforme essa dança.
O Centrão nem está na esquerda e nem na direita, porque nem faz conta e nem acredita nelas. Está com quem tem o poder. Independe de verniz ideológico.
Publicamente, a explicação dos seus integrantes é teoricamente republicana. São a favor do Brasil, então não faz sentido ser ou fazer oposição. Na prática de Brasília, a coisa é outra. Para parlamentares emenderos, o Orçamento Geral da União é o Éden que salva reeleições.
Esquerda e direita, quando estão fora do poder, ensaiam odiá-lo. Excomungam e criticam adversários no Planalto que os abriga por necessidade e dependência.
Candidato, Bolsonaro fez isso, apesar de sempre ter sido um dos. Foi do PSC e do PP. Na campanha, cuspia o “Centrão”. No poder, começa a dar ao “Centrão” o espaço que Lula fartamente ofertou na Presidência dele e na terceirizada de Dilma.
O bolsonarismo agora engole o discurso, governa com os centristas e prospecta apoio deles. Para voltar ao Planalto, Lula já começou peregrinação e quer chegar “lá” com essas forças na garupa. Elas, como sempre, se valorizam. Vão roer o osso de Bolsonaro até onde der. Se valer a pena, ficam com. Do contrário, surfam noutra onda.
Essa é a entidade invisível que tanto se apedreja, o Centrão; odiado por quem está fora do banquete, indispensável para quem quer governar ou se reeleger. Bolsonaro e Lula sabem disso. Já a militância finge que não.