Quando a cidade dorme – Heron Cid
Crônicas

Quando a cidade dorme

4 de julho de 2021 às 09h57

Quando não adormecia antes, só desligava o rádio depois de ouvir o prefixo de despedida e encerramento da programação da Difusora de Cajazeiras, no fim da noite.

Deitado na rede, o travesseiro era o aparelho radiofônico à pilha, com o chiado original de fábrica.

Até hoje vibra na memória auditiva o tema instrumental, a trilha sonora de “Quando a Cidade Dorme”, programa cuja audiência cativa apresentou-me as canções da Jovem Guarda, de Nelson Gonçalves e Altemar Dutra.

A voz marcante de Geraldo Nascimento era minha companhia e viagem noturna em boa parte da adolescência, na minha Marizópolis. Guardo ainda a melodia de sua vinheta.

De hora em hora, o mesmo Geraldo – dono de timbre inconfundível – lia as notícias no Rádio Repórter, com direito a vinheta de Sérgio Chapelin. Um primor.

Foi uma das minhas primeiras referências de leitura irrepreensível, de elegância no trato do microfone e perfeita emissão vocal.

A interação, as ligações, às cartas e os “alôs” dos ouvintes da região e de vários recantos do Brasil, até onde o som da “Pioneira” cortava os céus nordestinos com suas ondas potentes…

Tudo isso me fazia voar longe sem sair do pequeno quarto da nossa casa na rua Ana Rocha, número 18, berço das melhores imagens e nostalgias.

A cidade dormia e eu, menino-rapaz, fechava os olhos e via desabrochar o mundo mágico do rádio, da poesia, da música e da vida.

Até que desperto e vejo que o bom Geraldo Nascimento dormiu para a vida e acordou na eternidade sem nunca saber que tanto bem me fez.

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