Por todos os ângulos, estatísticas e comparativos, as 500 mil mortes de brasileiros por Covid-19 representam uma tragédia sanitária sem precedentes.
A radiografia dos números coloca-nos como um desastre no mapa do mundo. Seja em números absolutos, seja por milhão de habitantes, seja pela letalidade ou pela posição na vacinação.
Temos muitos mortos e (relativamente) poucos vacinados no ranking mundial.
Sabe o que é o pior da tragédia? É que ainda não há data para o final, como acentuou recente manchete do Correio Braziliense. Há muito túnel no fim da luz.
E também a sensação de que a mortalidade poderia ter sido menor não fosse a falta de liderança e a inapetência do presidente Jair Bolsonaro na condução do maior desafio da nossa geração.
Em qualquer cenário, as 500 mil vidas perdidas seriam motivo para luto e pesar. Mas, consolaria, atenuaria corações, a constatação de que não faltaram esforços e empenho.
O Governo foi negligente, no mínimo, e culposo, no máximo, quando tratou a pandemia a golpes de ideologia conspiratória. Dividiu quando mais precisávamos de unidade e direção consequente.
Agiu com incompreensível desdém diante da anunciada tempestade. Politizou e deixou politizar o assunto ao máximo. Enfrentou a crise como se estivesse numa competição de brasileiros contra brasileiros.
É charlatanismo radical colocar meio milhão de mortos nas costas de um homem só, ainda mais quando as políticas de enfrentamento foram repartidas com gestores estaduais e municipais – destinatários de muitos recursos para bancar o tratamento.
Mas, governadores e prefeitos, com exceções, têm mais chances de colocar a cabeça no travesseiro com a sensação de que fizeram tudo que as ciências e a medicina receitaram. E que lutaram para conter a disseminação daquilo que, desde o princípio, revelou-se um vírus com alto potencial de matar.
Por imperícia ou insensibilidade, Bolsonaro fez o contrário. Banalizou a morte e desprezou a única medida de proteção eficaz. Quando percebeu que sua postura sobre a imprescindível vacina era minoritária e distante do que pleiteava a maioria da sociedade (ou do eleitorado), correu atrás do prejuízo e refez a narrativa.
Tarde demais para boa parte de 500 mil famílias. Ainda mais sabendo que qualquer número sempre será “menor do que a vida de qualquer pessoa”.