E daí? Deu no que deu: 500 mil mortes – Heron Cid
Opinião

E daí? Deu no que deu: 500 mil mortes

20 de junho de 2021 às 16h08
Pais, mães, filhos, irmãos, cunhados, tios, primos, netos, avós, maridos, esposas, enteados, sogras, genros, amigos, enteados, profissionais, trabalhadores, empregadores, colegas...

Por todos os ângulos, estatísticas e comparativos, as 500 mil mortes de brasileiros por Covid-19 representam uma tragédia sanitária sem precedentes.

A radiografia dos números coloca-nos como um desastre no mapa do mundo. Seja em números absolutos, seja por milhão de habitantes, seja pela letalidade ou pela posição na vacinação.

Temos muitos mortos e (relativamente) poucos vacinados no ranking mundial.

Sabe o que é o pior da tragédia? É que ainda não há data para o final, como acentuou recente manchete do Correio Braziliense. Há muito túnel no fim da luz.

E também a sensação de que a mortalidade poderia ter sido menor não fosse a falta de liderança e a inapetência do presidente Jair Bolsonaro na condução do maior desafio da nossa geração.

Em qualquer cenário, as 500 mil vidas perdidas seriam motivo para luto e pesar. Mas, consolaria, atenuaria corações, a constatação de que não faltaram esforços e empenho.

O Governo foi negligente, no mínimo, e culposo, no máximo, quando tratou a pandemia a golpes de ideologia conspiratória. Dividiu quando mais precisávamos de unidade e direção consequente.

Agiu com incompreensível desdém diante da anunciada tempestade. Politizou e deixou politizar o assunto ao máximo. Enfrentou a crise como se estivesse numa competição de brasileiros contra brasileiros.

É charlatanismo radical colocar meio milhão de mortos nas costas de um homem só, ainda mais quando as políticas de enfrentamento foram repartidas com gestores estaduais e municipais – destinatários de muitos recursos para bancar o tratamento.

Mas, governadores e prefeitos, com exceções, têm mais chances de colocar a cabeça no travesseiro com a sensação de que fizeram tudo que as ciências e a medicina receitaram. E que lutaram para conter a disseminação daquilo que, desde o princípio, revelou-se um vírus com alto potencial de matar.

Por imperícia ou insensibilidade, Bolsonaro fez o contrário. Banalizou a morte e desprezou a única medida de proteção eficaz. Quando percebeu que sua postura sobre a imprescindível vacina era minoritária e distante do que pleiteava a maioria da sociedade (ou do eleitorado), correu atrás do prejuízo e refez a narrativa.

Tarde demais para boa parte de 500 mil famílias. Ainda mais sabendo que qualquer número sempre será “menor do que a vida de qualquer pessoa”.

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