A entrevista de Sandra Pêra ao MaisPB: o disco com Belchior e a história com Gonzaguinha – Heron Cid
Bastidores

A entrevista de Sandra Pêra ao MaisPB: o disco com Belchior e a história com Gonzaguinha

19 de junho de 2021 às 12h16

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos: Jorge Bispo

Sandra Pêra, ex-Frenética, irmã de Marília Pêra, está de volta ao mercado fonográfico. Já está nas plataformas e físico o álbum “Sandra Pêra em Belchior”, com selo da Biscoito Fino, no qual a atriz e cantora interpreta clássicos do compositor e cantor cearense, que morreu aos 70 anos, em 2017. Esse é o segundo disco solo da também diretora e produtora. O álbum tem direção de José Milton e Amora Pêra, sua filha. A capa é de Antonia Ratto, diretora de criação e design visual.

Sandra estava jantando na casa de Kátia de Almeida Braga, dona da gravadora Biscoito Fino, e enquanto ouviam a nova versão de Fagner para Mucuripe (parceria dele com Belchior), de seu novo álbum “Serenata” (da Biscoito), Katia sugeriu que Sandra gravasse um álbum dedicado à obra de Belchior e ela pegou na palavra.

Fazem dueto em “Sandra Pêra em Belchior” Ney Matogrosso, Zeca Baleiro, Chicas e Juliana Linhares. Tocam no disco Cristóvão Bastos, Eduardo Souto Neto, Camila Dias, João Lyra, Jessé Sadoc se revezam nos arranjos (também no piano, violão e trompete).

O primeiro single, “A Palo Seco”, já havia sido disponibilizado em maio passado. Nessa faixa, Sandra está acompanhada do pianista e arranjador Cristóvão Bastos que criou um arranjo que reforça a conexão da obra de Belchior com sonoridades da América Latina. E ainda conta com o bandoneon do Walter Rios.

No disco estão as versões de Sandra para “Na hora do Almoço”, “Paralelas”, “Velha Roupa Colorida”, “Sujeito de Sorte” “Mucuripe” e Medo de Avião”. Há uma assertiva que Belchior compôs “Medo de Avião” para Sandra.

Com Ney Matogrosso – amigo de longas datas, Sandra faz dueto com “Velha Roupa Colorida”. Com Zeca Baleiro, com quem ela trabalhou em um espetáculo do Ivaldo Bertazzo, ‘Mãe Gentil’, projeto de dança com crianças da periferia de São Paulo e da Maré, no Rio, Sandra canta “Na Hora do Almoço”.

A banda Chicas do Rio, formada por Amora Pêra, Paula Leal e Isadora Medella fizeram arranjo vocal para a faixa “Pequeno Mapa do Tempo” e arrasam nos vocais de “Todo Sujo de Baton”. Na faixa “Galos, Noites e Quintais” Sandra Pêra faz dueto com Juliana Linhares, do grupo Pietá, atriz e cantora do Rio Grande do Norte.

De família de atores, Sandra Pêra cresceu nas coxias dos teatros ao lado dos pais, Manoel Pêra e Dinorah Marzullo, da avó Antonia Marzullo, do tio Abel Pêra e da irmã Marília Pêra.

Em entrevista ao MaisPB, Sandra conta toda história desse disco, relembra seu romance com Gonzaguinha, com quem tiveram a filha Amora, e fala da saudade da mãe e da irmã, as atrizes Dinorah Marzullo e Marília Pêra, que morreram em 2013 e 2015, respectivamente.

MaisPB – 38 anos depois, você volta a gravar e traz releituras com o álbum “Sandra Pêra em Belchior” Como aconteceu isso?

Sandra Pêra – Eu estava jantando na casa de Kátia Almeida Braga, somos muito amigas, estávamos ouvindo o disco novo de Fagner, “Serenata”, quando ela lançou a proposta de gravar um disco com as canções de Belchior. Meu coração bateu forte, fiquei pensando se ela ia lembrar disso no dia seguinte, tanto que liguei para confirmar se continuava de pé e ela confirmou. Kátia ligou para o José Nilton, produtor do disco de Fagner e chamou ele para fazer comigo. Tudo aconteceu de repente, no meio dessa pandemia. A importância do Belchior é imensa. Era um poeta de uma grande cultura.

MaisPB – Vamos voltar no tempo. Antes desse disco foi fez muita coisa, né

Sandra Pêra – Eu queria muito cantar, fazer shows, quando sai das Frenéticas, juntei com a Dhu Moraes ( também do grupo Frenéticas) e Mimi Lessa, que era guitarrista das Frenéticas e começamos a fazer shows. Um show que contava nossa história, que teve a direção de Rodrigo Faour e o nome terminou ficando: “Duas Feras Perigosas”. Cantamos no Beco das Garrafas e em outros palcos. Isso foi em 2014, 2015 e 2016. O show virou um DVD.

MaisPB – Esse é o primeiro disco que sai em homenagem a Belchior?

Sandra Pêra – Acho que não, saiu um disco da Ana Cañas.

Foto: Jorge Bispo

MaisPB – Sentiu dificuldade em fazer o repertório?

Sandra Pêra – Não. Imediatamente eu comecei a ouvir os discos dele. Eu tinha certeza que eu não queria cantar “Como Nossos Pais”, em respeito a gravação de Elis. E “Meu Coração Selvagem”, que foi um grande sucesso com a Ana Carolina. Eu quis fazer uma coisa bem diferente.

MaisPB – Tem uma história boa, a canção “Medo de Avião”, que está no seu disco, foi feita pra você. Conta aí pra gente?

Sandra Pêra – Essa história é assim: era precisamente dia 18 de setembro de 1977, íamos fazer um show em Fortaleza. A música “Medo de Avião” já existia. Eu morro de medo de avião. Ele sentou do meu lado no voo e disse, “eu fiz a canção Medo de Avião para você”. Passou o tempo, ele gravou uma canção chamada “Corpos Terrestres” e nos convidou, nós as Frenéticas, para cantar com ele. Dez anos depois, fui fazer um programa da Silvia Popovich, que era sobre medo de avião, e lá ela disse que Belchior tinha feito a canção para mim, eu desmenti.

MaisPB – Mas a dúvida continuou?

Sandra Pêra – Anos depois fui me apresentar com uma peça em Recife, e lá um jornalista que jantou com a gente comentou que Belchior tinha dito que fez a canção “Medo de Avião” para mim. O jornalista era o Fernando Rocha, que faz o “Bem Estar”. Agora, antes de sair meu disco, ele confirmou, que Belchior tinha dito várias vezes que fez a canção para mim. Ele me ligou e repetiu, “sim, essa música ele fez para você”.

MaisPB – A capa do seu disco é da artista Antônia Ratto?

Sandra Pêra – Sim, Antonia Ratto, é uma profissional talentosa, juntou meu rosto dentro do de Belchior. Eu gostei muito.

MaisPB – Convidou Ney Matogrosso, para cantar nesse disco, “Velha Roupa Colorida”?

Sandra Pêra – Isso é uma longa história. Assim que acabou o “Dancin’ Days”, ( novela da Globo), estávamos sem casa. Eu já tinha morado com a Zezé Mota, tinha a casa da minha mãe, mas eu não queria ir. Aí fomos parar na casa do Ney, que morava na esquina da praia. Depois ocupamos outro apartamento, eu Regina e Lidoka e o Ney com a gente, muitas alegrias e rock n roll. O Ney tinha que estar nesse disco.

MaisPB – A faixa “Galos, Noites e Quintais” você faz dueto com Juliana Linhares.

Sandra Pêra – Isso. Foi uma sugestão da Amora, minha filha (que também produz o disco) Juliana é atriz e cantora do Rio Grande do Norte e está no Rio de Janeiro há algum tempo. É uma jovem voz nordestina, cheia de beleza e talento.

MaisPB – A banda Chicas está nesse disco?

Sandra Pêra – Elas estão comigo na canção “Pequeno Mapa do Tempo” e na faixa “Todo Sujo de Baton”, elas fazem um vocal que eu amo. Eu botei as pessoas que eu admiro. Eu não conhecia Juliana, mas a Amora me apresentou e eu adorei. Aliás, falamos com Marcus Preto, (produtor Gal e da Juliana), ele nos cedeu.

MaisPB – Ficou alguma canção fora do disco?

Sandra Pêra – Teve. Na verdade, eu escolhi todas, o repertório é meu. Tinha “Balada de Madame Frigidaire”, muito pouco conhecida, que ele fala para uma geladeira, é uma música muito teatral. Amora, disse logo: “Mãe, acho que você não devia cantar essa música agora”. Ela tinha toda razão, não era momento. Ele fala loucuras para uma geladeira.

MaisPB – “Sujeito de Sorte” já tem uma versão do rapper Emicida…

Sandra Pêra – Eu adoro essa canção, começo com ela e fecho o meu disco, só com uma vinheta no final. Eu nem sabia que Emicida tinha gravado, quando estava escolhendo o repertório. Lá no estúdio, Amora me perguntou se eu já tinha ouvido a versão do Emicida, que eu só fui conhecer quando eu assisti ao filme “AmarElo” ( documentário de Fred Ouro Preto), que eu vi ele cantando “Sujeito de Sorte”.

MaisPB – Você foi casada com Gonzaguinha?

Sandra Pêra – Não, casamento não. Eu namorei muito tempo com ele e se ele estivesse vivo nós ainda estaríamos namorando. A gente gostava muito um do outro. Ele foi o amor da minha vida, é o pai da minha filha Amora. Minha filha perguntava pelo meu vestido de noiva. Eu sempre disse a ela que namorei muito com o pai dela, mas não nos casamos.

MaisPB – O primeiro single, “A Palo Seco”, o pianista e arranjador Cristóvão Bastos criou um arranjo belo. Vamos lembrar isso?

Sandra Pêra – Ah! É lindo. O Cristóvão Bastos foi demais e tem o bandoneon do Walter Rios, que é de uma delicadeza e de uma precisão incríveis.

MaisPB – Muita saudade de sua irmã Marília Pêra?

Sandra Pêra – Muita saudade. Marília era mais que uma irmã, era tudo pra mim. Ela pegava o outro disco meu e colocava entre seus discos, como se fosse um porta-retrato. Sinto saudade dela e da minha mãe. Quando ela adoeceu, dizia: “estou mal porque nossa mãe morreu”. Éramos muito juntas. Eu era meio filha dela. Ela dizia, Bibi (Ferreira) está doente, tenho medo de perdê-la e ela se foi bem antes.

MaisPB – A banda gravou em casa?

Sandra Pêra – Não, todos com máscaras e os cuidados redobrados. No encarte tem todos os músicos de máscaras. Seguimos todos os protocolos. Ney (Matogrosso) gravou lá na Biscoito, foi o primeiro. O único que mandou a voz foi o Zeca Baleiro.

MaisPB – Vamos falar da participação do Zeca Baleiro no seu disco?

Sandra Pêra – Sim, “Na Hora do Almoço”, ele que escolheu cantar, eu pedi para convidá-lo e gostei muito da participação do Zeca.

MaisPB – Nota para o produtor do disco?

Sandra Pêra – Grande produtor, bom caráter, pessoa boa engraçado o José Nilton.

MaisPB

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