Eva desabafa sobre 'manobra' de Marinaldo: "Decepção e traição" – Heron Cid
Bastidores

Eva desabafa sobre ‘manobra’ de Marinaldo: “Decepção e traição”

26 de maio de 2021 às 19h40

Pelo acordo informal que garantiu a eleição do vereador Marinaldo Cardoso (Republicanos) para a presidência da Câmara de Campina Grande, a próxima presidente seria a vereadora Eva Gouveia, responsável por parte das tratativas. Seria porque uma manobra no Legislativo Campinense desfez, na prática, o que fora combinado: um ano de mandato para cada um dos articuladores (Marinaldo, Eva, Sargento Neto e Fabiana Gomes).

Eva não esconde a decepção com Marinaldo, a quem tratava como amigo, e nem economiza no termo. Para ela, não há outra palavra: traição. Foi esse o tom do desabafo da vereadora em entrevista há pouco ao programa Hora H, da Rede Mais Rádio.

Mais cedo, Eva encaminhou ao Blog uma longa e dura nota em protesto a todos os colegas que descumpriram a palavra empenhada. Ela chamou a operação de “circo” promovido no espetáculo da “falência moral de muitos atores”.

Em relação a Marinaldo, a decepção latente sobre o que agora chama de ex-amigo: “Hoje não tenho como dividir mais a confiança de tê-lo como um amigo. E isso dói. Dói porque repito: é uma morte para a vida”.

Confira a mensagem na íntegra:

Passando para falar um pouco do que compreendo acerca do episódio de ontem.
Não acredito que amargo sozinha a decepção de ontem. Campina inteira viu o parlamento se apequenar numa condução que de grande, não teve nada.

Todos sabem como o processo de construção dessa candidatura iniciou-se. Dentro de nossa casa, com as minhas digitais, com o meu nome e o meu mandato que avalizava uma candidatura até então desacreditada por alguns colegas. E não temos problemas em assumir as construções que antecederam tudo isso. Nossos acordos são feitos com clareza e dentro de construções coletivas.

Nunca achei que limitações impedem realizações de sonhos, até porque nunca deixei de ser humilde para reconhecer as minhas próprias, que não me impediram, inclusive, de chegar até onde o povo da Paraíba e o de Campina Grande me levou. Caririzeira do sítio, filha de um casal de professora e agricultor. Se fosse me guiar pela geografia e o gênero não teria saído da zona rural. Mas cheguei à Assembleia Legislativa da Paraíba e a Câmara Municipal de Campina Grande pela confiança do povo e a graça de Deus.

Campina sabe que retirei a minha candidatura ao primeiro biênio, opção que fiz para permitir que o sonho de um amigo se realizasse. Imaginei ser simbólico o legislativo Campinense eleger o primeiro presidente negro, que assim como Rômulo chegava à presidência sem sobrenome político tradicional.

Por entender que a realização deste sonho seria capaz de amenizar as feridas que ele dizia ter em relação ao processo “traumático” de 2016. Feridas que ele dizia ter. Bom que se registre. Meu papel nesse processo foi dirimir feridas nos que não pensaram duas vezes na hora de me causarem, não só a mim, mas a duas mulheres honradas e eleitas pelo voto popular, eu e a colega Fabiana Gomes, igualmente atingida pela inominável votação de ontem.

A democracia interna foi fragilizada.

Confesso que o resultado das urnas do último pleito muito me animou. Afinal, somos sete mulheres, a primeira mulher negra eleita, o primeiro negro na presidência. Tudo isso se comunica muito com o conjunto de valores que Campina espera e o mundo cobra.

O circo de ontem apequena nossa força, mas também nos coloca com mais vontade ainda de fazer valer cada voto que nos permitiu ser a mais votada.

A vítima de ontem não foi Eva Gouveia. A falência moral de ontem sepultou a um só tempo muito atores.

O acordo do anuênio nunca foi construído para sanar uma promessa política, mas para dar cumprimento a uma proposta que também não foi minha, mas de um outro colega, que enxergava essa opção como favorável e saudável ao legislativo – a alternância de poder. Como a democracia exige e como nós também acreditamos.

Um dos colegas que inclusive votou contra ao projeto de ontem – pasme a conveniência de postura!

Campina conhece a história de honradez e de serviço ao próximo que trilhei ao lado de Rômulo, conhece a minha coragem em continuar na luta pública sem baixar a cabeça, honrando um legado e recomeçando uma história. Não vai ser, definitivamente, o gesto de poucos que vai invalidar ou diminuir a vontade de muitos. Muitos que me fizeram a vereadora mais votada de Campina Grande.

Não tem homem nenhum que me intimide. Não tem cargo nenhum maior que a minha consciência. Nem no executivo, nem no legislativo. Isso não me fará servir menos a Campina.

Tenho me calado para muita coisa porque tenho comigo a exata compreensão de que o silêncio é remédio para muita coisa. Minha mãe diz “o que não tem remédio, remediado tá”.

Você é prova disso. Sabe o que passei depois da morte de Rômulo. Sabe os desafios que encontrei e sabe que com silêncio e resiliência eu consegui vencer a todos.

Uma subida de tom como a do final da sessão de ontem nem me agride e nem me oprime, nem muito menos me causa medo, mas me obriga sim a dizer que da minha parte, e dos meus, a única coisa que se houve foi a cobrança de que o acordo fosse cumprido. Palavra, na minha construção de vida ainda é o maior patrimônio de qualquer ser humano. Dura inclusive, muito mais do que mandato.

A Cobrança se tornou mais efusiva após tomar conhecimento de que o agente principal estava espalhando por aí que eu estava fazendo pressões e cobranças sobre o tema em questão. Mas o que há de crime em cobrar que a palavra seja cumprida? E como se sentiriam os meus eleitores se eu me incomodasse com as cobranças que eles eventualmente poderiam fazer de algo que eu possa ter falado ou me comprometido? Sou professora por formação e acabo sendo professora na vida: a carapuça de possíveis ameaças não me cabem. Mas não estou de brincadeira. Vão aprender a me respeitar. E se for preciso eu vou ensinar isso. Mas vou ensinar com dignidade. Item que projeto de lei nenhum traz como substitutivo.

A minha dor de hoje não é do cargo que deixaria de assumir, afinal isso muito pouco ou quase em nada me importa. Sou desprovida de vaidades e deixei de assumir outros muito maiores por decisão própria, afinal ainda insisto que a consciência tranquila e a paz de deitar no meu travesseiro não tem preço. Nem tudo pelo poder.  Nunca tudo pelo poder. Meu único compromisso é com o povo de Campina e também da Paraíba.

Quando acalmo o coração pela perda recente de dois familiares para a COVID, sofro a perda de um amigo de caminhada, de uma história de mais de 20 anos juntos, nas comunidades e movimentos sociais de Campina. Só que essa perda é diferente porque não foi para a morte mas para a vida. Para o poder que subiu a cabeça. Para as pressões que o fizeram sair do trilho e deixar a rota.

Marinaldo terá para sempre o meu respeito porque a história dele nos exige isso. Conquistou os espaços que ocupou, com exceção da presidência da CMCG, com suor próprio e único, com suas próprias pernas, mostrando para os outros que o bom amigo é o que chega junto na hora da necessidade. Dividimos por muito tempo esse jeito de fazer política. Hoje não tenho como dividir mais a confiança de tê-lo como um amigo. E isso dói. Dói porque repito: é uma morte para a vida.
A partir de ontem, manteremos uma relação de respeito, cordialidade, e até de parceria quando os interesses forem coletivos e tão somente de Campina, cidade para a qual fomos eleitos. Amizade, ah, isso eu acho muito difícil que seja mais possível. Não elimino completamente a possibilidade mas hoje sou cética a ela.

Lhe digo que espero, sinceramente, que a cadeira de presidente não limite, em retaliação ao meu desabafo, as capacidades de meu mandato e do trabalho dos que me acompanham, que trabalham na estrutura da Câmara, que têm contribuído com a administração da casa e que dividem conosco missões na Câmara Municipal de Campina Grande. Mas isso, só o futuro dirá. Sinceramente não acredito que ele fará isso, seria mais uma postura que eu não conheço sobre ele. Mas lhe digo: desde o início do ano eu decidi não fazer mais apostas, em nada e em ninguém.

Por fim, quero registrar que minha noite foi de sossego e paz, uma paz absurda que me invadiu.
Aproveito o espaço para agradecer as dezenas de mensagens e ligações que recebi, dos nossos eleitores, políticos da cidade, do estado, e até de fora, a exemplo do meu querido presidente Kassab. Gestos de solidariedade sinceiros, verdadeiros.

Campina não será terra de escravos, os homens bravos da sempre atual profecia de Felix de Araújo também se envergam não força das caririzeiras tomadas pelo coração da nossa Borborema.

Nossa cidade é maior que todo o parlamento dela. Graças a Deus! E não vai acabar em um anuênio.

Comentários