E se fosse criado o Leito Cidadão? – Heron Cid
Bastidores

E se fosse criado o Leito Cidadão?

11 de março de 2021 às 13h44

Uma coisa a pandemia escancarou o que, tecnicamente, já se sabia: o Brasil tinha quantitativo deficiente de leitos de Unidade de Terapia Intensiva.

E descobriu, também, que um leito de UTI é caríssimo, mas em crises como essa a ausência dele define quem vive e quem morre.

Se a covid pode nos deixar um legado este é de não permitir que os novos leitos criados sejam desativados, porque esse incremento pode e deve servir para acudir pacientes de outras doenças.

Gente que, muitas vezes, morre por falta de acesso rápido e eficiente.

Esse tema tem mexido com a classe médica. Meu amigo e médico Gláucio Nóbrega (foto), reconhecido gastroenterologista paraibano, ergueu essa bandeira e provoca o aprofundamento desse debate.

Gláucio fala com conhecimento de causa. Na pandemia, ele desbravou a telemedicina e atendeu pacientes do Brasil inteiro. E até de outras partes do mundo.

Estuda, pesquisa, se recicla e não se acomoda. Mas, não está satisfeito em atender e ajudar a salvar as vítimas da covid. Quer mais.

E é daqueles que não esperam e nem depositam a confiança apenas no poder público. Prega e defende que a vida é uma causa coletiva e social. Todos, em alguma medida, podem colaborar e contribuir para abrir e manter um leito salvador.

Um leito que Gláucio, sabiamente, batizou de “cidadão”. Um leito cidadão.

Abaixo, o texto que ele enviou ao Blog com a ideia. Leia até o fim:

E se fosse criado o Leito Cidadão?

Por Gláucio Nóbrega, Médico – CRM 4299-PB.

A humanidade assiste a um dos seus maiores desafios nas últimas décadas: a Pandemia pelo novo Coronavírus, causador da COVID-19!

Os problemas são gigantes, em todas as áreas, notadamente na sobrecarga dos serviços de saúde, principalmente da falta de leitos públicos de CTI, que é sabidamente insuficiente, fato observado também em nosso País, mormente no Norte do Brasil. E isso tem custado vidas. Muitas vidas!

Em comunicado realizado há alguns dias pelo Ministério da Saúde, durante reunião da Comissão Intergestores Tripartite, foi informado ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde dos Estados (Conass) que o “número de leitos em fevereiro custeados pelo governo federal vai ser reduzido em mais da metade na comparação com janeiro — de quase 8 mil para pouco mais de 3 mil leitos”.

Esse é um cenário da tragédia anunciada, no qual a situação deverá se agravar ainda mais, considerando, de um lado, a carência já existente de leitos hospitalares, sobretudo de CTI, e, na outra face, a demanda crescente, sobretudo de pacientes que necessitam de internação hospitalar.

O pedido de crédito extra ao Ministério da Economia já foi realizado, mas o Governo Federal já deu sinais de que possivelmente não haverá recursos adicionais além do previsto.

Sabe-se realmente que os recursos são finitos, e que também as necessidades de saúde da nossa população, são, em outra vertente, infinitas…sobretudo agora em tempos de pandemia.

Nesse complexo contexto, em que a doença não possui ainda um tratamento de cura, e que a vacinação em todo o mundo ainda está em suas fases iniciais, a doença avança! E mata!

No Artigo 196 da Carta Magna, observa-se de forma cristalina que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Pois bem, está na Constituição: cabe ao Estado a proteção do seu Cidadão!

Mas, à propósito, quanto custa efetivamente abrir e manter um leito de UTI?

Segundo a Unicamp, uma das instituições acadêmicas mais sérias, respeitadas e renomadas do Brasil, os custos são aproximadamente os seguintes:

– Implantar um leito de UTI: Aproximadamente R$ 180 mil / por leito.

– Manter um leito de UTI: Entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por dia.

Mas, se o Governo Brasileiro diz não haver caixa suficiente para fazer face a esse pleito URGENTE da Saúde Pública Brasileira agora na Pandemia, será que, por outro lado, o nosso Governo Federal tem algum crédito na praça junto a algum(ns) devedor(es) do País? Tem, e muito!

E qual seria o montante desses débitos, por exemplo, daqueles constantes como os maiores devedores do Governo Brasileiro? Os primeiros colocados…

No ranking dos devedores, apenas para os dez maiores, tem-se o montante de uma dívida de cerca de R$ 190,7 bilhões de reais. Isso mesmo! Quase 200 bilhões de reais. Apenas para os dez primeiros colocados!

Os dados são da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional do Ministério da Economia, e referem-se a débitos trabalhistas, previdenciários e outros impostos, sendo esse levantamento feito até agosto de 2020.

Os devedores são de segmentos diversos…a saber:

Os 10 maiores devedores do governo federal são:
1. Petrobras:R$53,9bilhões;
2. Vale:R$40,5bilhões;
3. Carital(ex-Parmalat):R$29,1bilhões;
4. Indústrias de Papel R Ramenzoni:R$11,4bilhões;
5. CSN:R$10,5bilhões;
6. Varig:R$10,1bilhões;
7. Vasp:R$9,3bilhões;
8. Tinto Holding (GrupoBertin):R$9,2bilhões;
9. PPLParticipações:R$8,8bilhões;
10.Bradesco: R$ 7,9 bilhões.

Bom, e qual a proposta então que se apresenta? Simples e direta.

À semelhança do IPTU Cidadão, tão em voga em vários municípios do Brasil, propomos então que os 1000 (mil) maiores devedores públicos do Brasil façam a substituição tributária de parte de suas respectivas dívidas (as legalmente possíveis) com o País, com o Cidadão Brasileiro, por um LEITO DE CTI.

Além de salvarem inúmeras vidas, seria uma oportunidade ímpar para que esses devedores pudessem cumprir com suas obrigações perante os cofres públicos Brasileiros, e, além de ser também um gesto humanitário, seria realmente uma ação de Responsabilidade Social para com os cidadãos brasileiros e o País!

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