Encerro hoje o ciclo da quarentena da covid. Foram duas semanas de cárcere privado, o isolamento doméstico a que todo doente se submete para evitar disseminação do contágio.
Febre, indisposição, tosse seca, dor de cabeça, ausência de paladar e olfato me visitaram.
Mas, a solidão é o pior dos sintomas da doença.
A privação de um abraço de um filho pequeno de quem se ouve a voz saltitante na sala, a falta de um toque nas mãos de sua companheira.
Tudo isso debilita a alma mais do que a infecção alojada no organismo.
Rever o sorriso de Benjamim, meu caçula, voltar a ser recebido na mesa para o café da manhã com a ternura de Marly, revisitar cômodos da casa.
Coisas simples que passam, de repente, a outro tamanho. E significado.
A sensação é de reencontro.
Reencontro consigo mesmo. Com tudo que está tão perto e fica tão longe.
A covid ensina. Mexe por por fora e nos convida a olhar mais para dentro.
A felicidade está bem aqui. Do outro lado da porta.