Já parou para pensar que em todo lugar (bar, restaurante, casa de festa, loja, clínica) há um limite de pessoas no mesmo ambiente, menos nos ônibus do transporte público?
A despeito dos protocolos exigidos para toda a cadeia produtiva e prestadores de serviço, nos ônibus concentra-se o maior metro quadrado de risco de contaminação da covid-19.
Com um agravante: sem que chame atenção, cause repúdio ou, em última instância, provoque um debate razoável e uma força-tarefa para proteger usuário e trabalhadores do transporte.
É como se o perigo de contágio só existisse da porta dos ônibus para rua. Dentro, não importa quantidade e nem como passageiros se espremem para chegar ao trabalho ou voltar para casa.
Em João Pessoa, as cenas de descaso se multiplicam. O desrespeito ao consumidor e as regras sanitárias se reproduzem à luz do dia. Sem constrangimento.
De um jeito que daqui a pouco o dono do bar ou do restaurante, por exemplo, vai se sentir no mesmo direito de juntar mesas e esticar a capacidade ao máximo. E terá um presumido argumento. “Se pode no ônibus…”
Matéria do Portal MaisPB cutucou o assunto proibido. Do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de João Pessoa recebeu como resposta as obviedades: os ônibus são sanitizados e disponibilizam alcool em gel.
Nada sobre superlotação. Por que? Porque não se consegue afastar com palavras a força das imagens de gente comprimida em centímetros, enlatada feito sardinha, respirando o mesmo e raro ar.
Máscara nenhuma é capaz de inibir o sobrevoo do coronavírus nessas circunstâncias. Dizer o contrário é apenas ginástica empresarial, que em nada diminui o constrangimento às autoridades da pandemia.
O rigor que possibilita degustação e drinks da gente fina em seus ambiente sofisticados, sem ameaças de covid, não garante básica cidadania e segurança sanitária a operários, domésticas e estudantes no seu pandemônio diário de lotações de até 100 pessoas.
A questão é econômica, mas empresas não admitem de forma transparente. Se precisar cumprir o distanciamento social, obrigatório a todos os serviços, este pode ficar inviável. Caberia então uma logística especial, nos horários de pico, até a pandemia passar. Afinal, concessão pública prescinde responsabilidade social. E não só lucro.
Sem respostas ou pressão, a coisa segue. As empresas fingem que cumprem os protocolos e os órgãos fingem que fiscalizam. Só o usuário, e agora Ministério Público, não topa a encenação.