Em artigo, Josival Pereira rememora "Entrevero com João Henrique" – Heron Cid
Bastidores

Em artigo, Josival Pereira rememora “Entrevero com João Henrique”

13 de janeiro de 2021 às 16h51

Em artigo destinado ao Blog, o jornalista Josival Pereira traz um relato pessoal com o deputado estadual João Henrique (PSDB), falecido ontem vítima de complicações da covid-19.

Pereira viajou no tempo até a década de 80 e desembarcou em Sousa, alto sertão paraibano, onde pontificou como produtor e apresentador da Rádio Jornal AM, a mais importante da época na cidade.

A história vale a pena ser registrada. Pela memória e porque traz em si a volta ao batente do qualificado confrade Josival Pereira, após bem sucedida temporada no comando da Secretaria de Comunicação de João Pessoa, marcada pela perfomance técnica na condução da política de informação e imagem institucional da gestão municipal, de onde saiu exatamente da mesma forma que entrou, como jornalista.

Daqui em diante, a narrativa é de Josival, cajazeirense que orgulha as melhores tradições do jornalismo de Cajazeiras, sua terra natal.

Entrevero com João Henrique (por Josival Pereira)

Sabia de sua fama apenas pelos jornais. Embora integrante da Polícia Militar, João Henrique fazia sucesso como delegado da Polícia Civil, tendo desbaratado a temível gangue do Aguiar, liderada pelo famoso Quietinho, que tanto terror havia espalhado pelas estradas do Sertão.

Na primeira metade da década de 1980 estávamos em Sousa, na Rádio Jornal, coordenando o jornalismo da emissora e apresentando o programa Patrulheiro da Cidade, quando as lideranças políticas da cidade convocam João Henrique, que já atuava como advogado, para voltar às funções de delegado e combater uma onda de violência na região. João, casado com uma sousense, tinha profundas ligações com a cidade. Relutou, mas topou.

Certo dia, recebemos a denúncia de que o novo delegado havia dado 24 horas para um sousense, flagrado numa baguncinha de férias, deixar a cidade e retornar a São Paulo, onde morava. Fizemos um editorial veemente, afirmando que não estávamos no velho oeste americano, que o delegado não era xerife e que aquilo era arbitrariedade pura.

No final da tarde, enquanto disputávamos uma peladinha num campinho de futebol no bairro do Estreito, divisamos Cheiroso, o motorista do empresário Salomão Gadelha, então diretor da rádio, todo apreensivo à beira do poeirão.

– Josival, o delegado João Henrique foi lá na rádio atrás de você, dizendo que ia fazer você engolir o microfone.

Deu medo, lógico. Mas, além da impetuosidade jovem, tivemos a luxuosa assessoria do intelectual e então ex-deputado Paulo Gadelha, que havia se recusado a disputar a eleição em 1982, depois que a família trocou o MDB pelo PDS. Paulo sugeriu que fôssemos à Delegacia, no dia seguinte, acompanhado de advogado e com um gravador em punho. Ligado.

Fomos acompanhados pelo jovem advogado Raimundo de Doca, fiel escudeiro do renomado advogado Doca Gadelha, que à época estava deputado estadual. Estávamos seguros.

O delegado João Henrique foi cordial nos cumprimentos, mas acabou dando um jeito de desligar o gravador.  A conversa foi pouco amistosa em alguns momentos, mas acabou bem. O principal era o combate à violência, propósito de todos. Assumimos o compromisso de não atacar no pessoal e saímos com a promessa de sermos beneficiados com furos de notícias.

Poucos dias após, perto do meio dia, João Henrique telefona informando que acabava de prender os assassinos do empresário Didi da Livraria, que era bastante querido em Sousa e cuja morte violenta, dentro de sua residência, ali próximo à Matriz, abalara à cidade.

Os assassinos eram tio e sobrinho, estavam morando na cidade de Triunfo, mas eram de Fortaleza. Uma sandália velha e um boné deixados durante a fuga, depois do crime, foram o bastante para o determinado João Henrique chegar a eles e aliviar a cidade.

Depois veio ainda a prisão de uma gangue que assaltava caminhoneiros e o desvendamento de outros crimes. A região pareceu em paz e João Henrique foi, então, atuar no Direito, no prestigiado escritório de Nias Gadelha.

Somente reencontrei João Henrique em 2006, quando ele virou deputado estadual, durante entrevista no Correio Debate. Relembramos o entrevero, aos risos, no Cassino da Lagoa.

Nada muito importante, mas achamos interessante fazer o presente registro. Destaque-se, em João Henrique, sem qualquer outra avaliação de valor, a característica realçada por Adriano Galdino. Era homem de palavra: sim era sim e não era não. Há poucos assim na política.

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