Adolescente, colava o ouvido nos prefixos radiofônicos. Era audiência para todos. Um de cada vez. Zapeava de um canto a outro da frequência do painel do radinho.
Nos 1.000 quilohertz do AM, a Rádio Oeste apresentou-me pela primeira vez uma voz marcante, vibrante e uma leitura irrepreensível.
Era Paulo Feitosa, jovem locutor e repórter em início de carreira na imprensa cajazeirense.
Naquela época, o fascínio por esse universo mágico fantasiava imagens na cabeça a mil, cheia de sonhos e paixões pelos microfones e estúdio.
Anos mais tarde, no camarote da imprensa na cobertura do carnaval de Cajazeiras, lá estava o dono da voz e desenvoltura que aprendera a admirar.
Eu, ocasionalmente, transmitindo para a Rádio Cidade FM, a convite de Petson Santos, diretor e apresentador da emissora à época. Paulo fazendo o mesmo para a Oeste AM.
Entre um intervalo e outro, rápido cumprimento e depoimento de quem já o acompanhava de muito antes.
De lá pra cá, a cada encontro, poucos por sinal, a alegria e admiração recíproca eram contagiante.
De admirador passei ao prazer de ouvir elogios e generosidade do admirado de antes. De fã, ao lugar de apresentador chamando no ar aquele ilustre e entusiasmado correspondente de Cajazeiras em programas de João Pessoa.
Sujeito simples, alma boa, Paulinho vibrava com o sucesso alheio e de todos que migraram do Sertão para a capital, feito eu.
Qual não foi o súbito da notícia de sua precoce morte aos 45 anos.
E ela escolheu o Dia do Radialista (7 de Novembro) para calar profissional dos bons da radiofonia de Cajazeiras, tradicional escola paraibana do ramo.
Anestesiado, a reflexão foi automática. Na vida, por mais que a gente resista, a contagem é regressiva.
Envoltos no turbilhão desse cotidiano alucinante desse nosso tempo e geração, só nos damos conta disso quando alguém querido ou admirado é tragado pela morte, destino certo de todos os vivos.
Inevitavelmente explode no juízo a pergunta sobre a existência: mais um dia ou menos um?