A vida: mais um ou menos um dia? – Heron Cid
Crônicas

A vida: mais um ou menos um dia?

8 de novembro de 2020 às 11h32

Adolescente, colava o ouvido nos prefixos radiofônicos. Era audiência para todos. Um de cada vez. Zapeava de um canto a outro da frequência do painel do radinho.

Nos 1.000 quilohertz do AM, a Rádio Oeste apresentou-me pela primeira vez uma voz marcante, vibrante e uma leitura irrepreensível.

Era Paulo Feitosa, jovem locutor e repórter em início de carreira na imprensa cajazeirense.

Naquela época, o fascínio por esse universo mágico fantasiava imagens na cabeça a mil, cheia de sonhos e paixões pelos microfones e estúdio.

Anos mais tarde, no camarote da imprensa na cobertura do carnaval de Cajazeiras, lá estava o dono da voz e desenvoltura que aprendera a admirar.

Eu, ocasionalmente, transmitindo para a Rádio Cidade FM, a convite de Petson Santos, diretor e apresentador da emissora à época. Paulo fazendo o mesmo para a Oeste AM.

Entre um intervalo e outro, rápido cumprimento e depoimento de quem já o acompanhava de muito antes.

De lá pra cá, a cada encontro, poucos por sinal, a alegria e admiração recíproca eram contagiante.

De admirador passei ao prazer de ouvir elogios e generosidade do admirado de antes. De fã, ao lugar de apresentador chamando no ar aquele ilustre e entusiasmado correspondente de Cajazeiras em programas de João Pessoa.

Sujeito simples, alma boa, Paulinho vibrava com o sucesso alheio e de todos que migraram do Sertão para a capital, feito eu.

Qual não foi o súbito da notícia de sua precoce morte aos 45 anos.

E ela escolheu o Dia do Radialista (7 de Novembro) para calar profissional dos bons da radiofonia de Cajazeiras, tradicional escola paraibana do ramo.

Anestesiado, a reflexão foi automática. Na vida, por mais que a gente resista, a contagem é regressiva.

Envoltos no turbilhão desse cotidiano alucinante desse nosso tempo e geração, só nos damos conta disso quando alguém querido ou admirado é tragado pela morte, destino certo de todos os vivos.

Inevitavelmente explode no juízo a pergunta sobre a existência: mais um dia ou menos um?

Paulo Feitosa, a bonita voz que calou no Dia do Radialista

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